quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Geriatria


Não chega a ser a melhor idade como muitos querem, mas, a velhice é, com certeza, a fase da libertação do ser humano.
Esses verdadeiros heróis da longevidade conseguem se despir de um sem número das bobagens aprendidas e repetidas.
Em reuniões comemorativas - Bodas de Prata, Bodas de Ouro, colação de grau em faculdades, casamento ou de exercício pleno de uma profissão - ficamos alegres e surpresos com as alterações fisiológicas produzidas em nós pelo tempo.
Assim, são desculpáveis os esquecimentos dos nomes dos antigos colegas e amigos que há muito tempo não víamos, chegando ao ponto de não reconhecê-los fisicamente.
São embaraços da idade avançada plenamente compreensíveis e aceitáveis. É politicamente correto achar engraçadinho o velhinho esquecido. 
Por outro lado, existe outro embaraço - também acarretado pela velhice - em que o idoso não encontra tanta compreensão assim.
Por ignorância e preconceito, a vida moderna tem nos afastado cada vez mais dos nossos ruídos fisiológicos, e até das nossas emoções. Como por exemplo, conter a flatulência.
Isso é muito prejudicial, principalmente à nossa saúde e, não por acaso, tem aumentado, em muito, os cânceres de intestino. 
Temos a capacidade diária de eliminar, aproximadamente vinte vezes, os gases - conhecidos como flatos - que vão se acumulando no nosso aparelho gastrointestinal.
A hipocrisia da vida urbana faz com que essa eliminação, geralmente ruidosa, seja considerada desrespeitosa e, portanto, devendo ser contida.
Dessa maneira, por incrível que pareça, relacionamentos são destruídos em função desse peristaltismo intestinal presente em toda a espécie animal.
O mesmo acontece com a nossa necessidade diária de expulsão de material fecal que, em função do grande número de atividades no dia, passa a existir com hora marcada, totalmente fora dos padrões ditados pela natureza.
Infelizmente, apenas na velhice conseguimos nos libertar de tanta caretice e de tanta ignorância.
Por essa razão, os velhos são muito gozados, já que não mais se submetem tão facilmente aos ditames dos chamados, erradamente, bons costumes.
É comum para as pessoas que tiveram constipação intestinal durante toda a vida, passarem a ter um total equilíbrio de suas funções gastrointestinais apenas em função de obediência ao que a natureza tão sabiamente nos impõe.
Quando em um casal não há amor e compreensão, esse fenômeno da natureza, às vezes, produz ruptura definitiva de um, até duradouro, relacionamento.
A interpretação da chamada “trovoada matinal” é traduzida por seres que não se amam mais como grosseiro e imperdoável desrespeito, e não, como uma emergência fisiológica incontrolável.
Certa ocasião, um amigo me contou que logo na primeira noite de um novo casamento, espontaneamente, e com o maior respeito, sua nova esposa abordou com elegância esse tema de forma humana e racional liberando-o de eventuais constrangimentos.
Graças a essa anti-hipocrisia do certo e errado, está ele há anos em permanente lua de mel.
Como médico, sou muito questionado sobre esses pequenos detalhes nos relacionamentos cujas soluções são simples e surgem com apenas um pequeno entendimento sobre fisiologia que, a meu ver, deveria ser ministrado nas escolas logo no início do primeiro grau.
Muitas doenças e muitos desgastes emocionais seriam, com certeza, evitados.
O que termina uma união é a falta de amor, e não, os ruídos e odores naturais e eventuais que emanam de seus parceiros.
A hipocrisia não tem lugar em uma relação de amor verdadeiro.

Gabriel Novis Neves
21-10-2015

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