quarta-feira, 23 de outubro de 2013

ABUSO INFANTIL

Mais do que crime, é talvez, o mais vil dos comportamentos humanos.
Sempre que se instala a dominação do mais forte sobre o mais fraco, caracteriza-se um verdadeiro massacre.
Isso é válido, inclusive, com relação aos animais ditos irracionais, frequentemente objetos de tortura de seres humanos inescrupulosos ou deturpados pela doença da maldade.
E não estamos falando ainda do abuso sexual infantil - característica do que há de mais de mais torpe na história da humanidade, ou seja, a anulação do mínimo de dignidade que todo ser vivo merece.
A consequência é uma criança destruída emocionalmente, com alto sentimento de culpa, pois, na sua ingenuidade, só o mau comportamento por parte dela teria como resposta a ignomínia do adulto, parente ou não. Ela passa a imaginar que a única maneira de conseguir amor é se subjugando totalmente à tortura, uma vez que se sente merecedora de tais castigos.
Lástima que esses abusos ocorram mais frequentemente no seio da tão falada família, conhecida e apregoada como esteio de toda uma sociedade.
Infelizmente, essa mesma família que deveria ser o símbolo do aconchego, da verdade e do amor, representa comumente o caldo propício a todo tipo de bulling e discriminação.
Nas grandes cidades isso é menos visível, em virtude, não só da grande agitação que permeia os circunstantes, mas, sobretudo, do maior acesso aos meios de divulgação através de palestras e debates esclarecedores.
Entretanto, no interior, com uma vida mais circunscrita às atividades locais, emergem com mais facilidade os comportamentos neuróticos do clã. Dessa maneira, tudo permanece, por toda uma vida, no silêncio sepulcral que pretende proteger aquela organização familiar.
Assim, inúmeras pessoas se perdem em neuroses graves futuras, já muito difíceis de resposta a um bom tratamento.
A culpa avassala aquela pessoa abusada na infância pelo resto da sua existência, tornando-a uma prisioneira de seus próprios instintos, sempre rechaçados como abjetos.
Vidas perdidas aos montes que, por sua razão nula de ser, já não apresentam sentido.
Uma das consequências mais graves disso é a absoluta incapacidade de amar.
O sucesso financeiro se transforma em obsessão, na ânsia de compensar essa incapacidade afetiva e, portanto, compra desvairada de objetos de consumo.
Entretanto, o barco do ano, o avião do ano, o último carro da moda, é muito pouco para cumprir a sua finalidade, e logo se transforma num imenso vazio.
Entram aí então as inúmeras muletas compensadoras, verdadeiras obsessões, tais como o álcool, as drogas, o hipererotismo, o jogo, sem falar das religiões hiperdimensionadas, verdadeiros bálsamos para consciências tumultuadas.
Enfim, a busca pelo resgate de uma vida que faça sentido, e não aquela que apenas esteja preocupada em obedecer às hipocrisias que o sistema exige.
Nós médicos, presenciamos esses quadros no dia-a-dia com muita tristeza.
Algumas vezes, felizmente, podemos ajudar através do diálogo aberto, o que nem sempre ocorre.
Pessoas mais velhas estavam habituadas a terem em seus médicos seus melhores confidentes.
A vida moderna, carregada de pressa, cortou esses privilégios.

Gabriel Novis Neves
01-10-201

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