Mais
do que crime, é talvez, o mais vil dos comportamentos humanos.
Sempre
que se instala a dominação do mais forte sobre o mais fraco, caracteriza-se um
verdadeiro massacre.
Isso
é válido, inclusive, com relação aos animais ditos irracionais, frequentemente
objetos de tortura de seres humanos inescrupulosos ou deturpados pela doença da
maldade.
E
não estamos falando ainda do abuso sexual infantil - característica do que há
de mais de mais torpe na história da humanidade, ou seja, a anulação do mínimo
de dignidade que todo ser vivo merece.
A
consequência é uma criança destruída emocionalmente, com alto sentimento de
culpa, pois, na sua ingenuidade, só o mau comportamento por parte dela teria
como resposta a ignomínia do adulto, parente ou não. Ela passa a imaginar que a
única maneira de conseguir amor é se subjugando totalmente à tortura, uma vez
que se sente merecedora de tais castigos.
Lástima
que esses abusos ocorram mais frequentemente no seio da tão falada família,
conhecida e apregoada como esteio de toda uma sociedade.
Infelizmente,
essa mesma família que deveria ser o símbolo do aconchego, da verdade e do
amor, representa comumente o caldo propício a todo tipo de bulling e
discriminação.
Nas
grandes cidades isso é menos visível, em virtude, não só da grande agitação que
permeia os circunstantes, mas, sobretudo, do maior acesso aos meios de
divulgação através de palestras e debates esclarecedores.
Entretanto,
no interior, com uma vida mais circunscrita às atividades locais, emergem com
mais facilidade os comportamentos neuróticos do clã. Dessa maneira, tudo
permanece, por toda uma vida, no silêncio sepulcral que pretende proteger
aquela organização familiar.
Assim,
inúmeras pessoas se perdem em neuroses graves futuras, já muito difíceis de
resposta a um bom tratamento.
A
culpa avassala aquela pessoa abusada na infância pelo resto da sua existência,
tornando-a uma prisioneira de seus próprios instintos, sempre rechaçados como abjetos.
Vidas
perdidas aos montes que, por sua razão nula de ser, já não apresentam sentido.
Uma
das consequências mais graves disso é a absoluta incapacidade de amar.
O
sucesso financeiro se transforma em obsessão, na ânsia de compensar essa
incapacidade afetiva e, portanto, compra desvairada de objetos de consumo.
Entretanto,
o barco do ano, o avião do ano, o último carro da moda, é muito pouco para
cumprir a sua finalidade, e logo se transforma num imenso vazio.
Entram
aí então as inúmeras muletas compensadoras, verdadeiras obsessões, tais como o
álcool, as drogas, o hipererotismo, o jogo, sem falar das religiões
hiperdimensionadas, verdadeiros bálsamos para consciências tumultuadas.
Enfim,
a busca pelo resgate de uma vida que faça sentido, e não aquela que apenas
esteja preocupada em obedecer às hipocrisias que o sistema exige.
Nós
médicos, presenciamos esses quadros no dia-a-dia com muita tristeza.
Algumas
vezes, felizmente, podemos ajudar através do diálogo aberto, o que nem sempre
ocorre.
Pessoas
mais velhas estavam habituadas a terem em seus médicos seus melhores
confidentes.
A
vida moderna, carregada de pressa, cortou esses privilégios.
Gabriel
Novis Neves
01-10-201
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