quinta-feira, 20 de março de 2014

França e moralidade

Que razões levariam um dos países europeus menos conservadores a mudar a opinião pública de seus habitantes tão subitamente?
Afinal, a França é o baluarte das liberdades, inclusive das relacionadas com a moral e com a afetividade.
Jamais interessou aos franceses a vida íntima de seus governantes. Povo culto, de bom poder aquisitivo, tem sempre coisas muito mais importantes para se preocupar, tais como a alta taxa de desemprego, a crise econômica e o problema com os imigrantes.
Episódios que teriam se tornado escândalos em países moralmente mais hipócritas, lá, escoam em águas tranquilas do cotidiano.
No momento atual o seu mandatário, avesso às convenções estabelecidas, inclusive à do casamento, viu-se, de repente, manchete das páginas de jornal em função dos seus arroubos afetivo sexuais.
Sim, os franceses não são muito ligados na moral vigente, mas sim, nos desastres econômicos que a falta dela pode causar.
Dessa feita, uma das componentes do triângulo amoroso provocou um prejuízo de três milhões de euros ao erário público num de seus ataques histéricos de ciúme. O palácio do governo teve várias de suas peças danificadas. Tudo isso fartamente divulgado pelos tabloides locais e pela mídia televisiva.
Isso para os franceses, esses “experts” do amor, é absolutamente injustificável, tornando-os figuras desprezíveis de dramalhões latino-americanos.
Que o presidente tenha as aventuras temporárias de sua predileção, tudo bem, mas que escolha melhor as suas cúmplices para que os desastres amorosos não saiam dos limites das respectivas alcovas. Parece que o padrão de qualidade das eleitas não tem sido exatamente o que a sociedade espera de uma figura política de tamanha importância.
Aliás, o referido presidente tem tropeçado até nas alterações políticas que dele se esperavam, causando ao seu eleitorado uma profunda decepção.
Da expressão tão frequentemente usada pelo povo francês, comum em pequenos incidentes sem maiores importâncias, “tudo tem se tornado muito grave”, já que prejuízos de qualquer ordem, contam muito, não só  para eles, mas para todos os povos que vivenciaram os horrores de duas grandes guerras.
Nós, com o nosso perdularismo, estamos sempre muito mais interessados na vida íntima de nossos governantes do que nos imensos desastres econômicos que suas condutas políticas equivocadas podem nos causar.
Coisas do terceiro mundo.

Gabriel Novis Neves
03-03-2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.