segunda-feira, 9 de novembro de 2009

HOMENAGEM

Sempre achei estranho essa mania de se homenagear pessoas vivas dando-lhes nomes de prédios, escolas, hospitais, pontes, ruas e tantos outros artifícios para escravizar o homenageado.

Com cinqüenta anos de atividades profissionais, após ter construído uma cidade e espalhado por todo o estado, do novo e velho Mato Grosso, conquistas arquitetônicas, jamais aceitei ter o meu nome utilizado nessas construções. Ao deixar a UFMT implantada e consolidada, o Conselho Universitário, por unanimidade, denominou o campus do Coxipó com o meu nome de batismo. Isto não passou de um ato de reconhecimento e nunca foi utilizado. Os prédios que construí não possuíam nomes de pessoas. Passados os anos, algumas reformas foram realizadas e os prédios re-inaugurados, agora têm os nomes de pessoas vivas.


No toma lá da cá é preferível viver sem ser homenageado para evitar a incômoda posição de devedor de favores, a quem não devemos. Há pouco tempo fui comunicado que uma grande obra teria o meu nome. Agradeci e justifiquei que vivos precisam de solidariedade. Homenagens prestamos aos mortos que merecem ser lembrados.

Cuiabá está cheia de ruas, avenidas, escolas, etc., com nomes de parentes de pessoas influentes que nem conhecemos. Receber homenagem é fácil, difícil é merecê-la, e como tem fantasmas por aqui. Prefiro ter amigos a ser amigo de pessoas influentes. Essas pessoas influentes fazem lobby político para colocar o homenageado como refém de uma gratidão. Acompanhei o sofrimento de um ilustre cuiabano que virou nome de prédio. Ideologicamente não se afinava com o idealizador da homenagem. Houve constrangimento e necessidade de explicações éticas. Graças a Deus, eu e a minha família estamos protegidos desse mal da homenagem que não é sincera ou por mérito.

Pobre do meu avô homenageado em um terreno que chamo carinhosamente de Pracinha do Vovô. O seu busto não tem identificação. Em compensação, até o operário que transportou a areia para a construção do pedestal tem o seu nome na enorme placa do peixinho. Vontade tive de trazer para casa o busto do meu avô e deixar a pilastra de sustentação com o nome da diretoria.

Não é mania, mas entre os cuidados que tenho estão as de evitar certas homenagens. Quero, enquanto vivo, apenas solidariedade.


Gabriel Novis Neves
23 – 10 - 09

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.