quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

10 de Dezembro

“Precisamos dividir o poder no pantanal, ele não pode continuar a ter um dono. O instrumento está aqui.” Após essas palavras, Jarbas Gonçalves Passarinho, Ministro da Educação, passou às minhas mãos o ato de criação da Universidade Federal de Mato-Grosso, com sede em Cuiabá.

A nossa Universidade foi fecundada em Cuiabá e o seu nascimento, por motivos óbvios, ocorreu na Base Aérea de Campo Grande. O parto foi feito pelo General Médici, tendo como auxiliares, o Ministro de Xapuri (Passarinho) e o Governador de Miranda (Pedrossian).

Como Secretário de Educação do Estado assisti ao parto histórico, cheio de quebra de paradigmas. Mato-Grosso não era dividido, e naquela ocasião, a velha idéia da divisão do Estado pertencia à história. A rivalidade Cuiabá X Campo Grande era enorme e a nossa UFMT tem na sua certidão, Campo Grande como local do seu nascimento.

Interessante! Uma Universidade que veio para democratizar o poder no Estado curral, teve como maternidade uma Base Aérea Militar e um General do Exército como autor das primeiras impressões digitais na recém nascida UFMT.

O poder político era sustentado pelo poder econômico, representado pelo gado do pantanal e era alternado entre algumas famílias. Em 1970 este estado de coisas era incompatível com a dignidade humana. O Ministro do Acre, ao me nomear reitor “pró-tempore”, incumbiu-me de transformar o ato burocrático do Diário Oficial da União, em realidade. Na ocasião disse-me: “não estou lhe oferecendo emprego. Esta é uma missão importante para o seu Estado, para a Amazônia e para o Brasil” - palavras proféticas.

Em 1974 assume a Presidência da República o General Geisel. Após montar o seu governo na praça XV de Novembro no Rio de Janeiro, escolheu quatro locais no Brasil para visitar. A primeira foi na nossa recém nascida Universidade da Selva. Passou a manhã conosco em uma sala de aula no bloco de tecnologia, sentado em uma carteira escolar comum, com toda a sua assessoria. Ao final do encontro senti o ambiente francamente acolhedor às propostas da Uniselva para o desenvolvimento do Estado. Quebrando o rígido protocolo convidei o Presidente a visitar o Museu Rondon. Disse-lhe que seria uma heresia visitar o campus sem homenagear o nosso patrono Rondon. A severa segurança do Presidente foi à loucura! Nessa ocasião ele recebeu das mãos do Diretor do Museu, uma borduna dos Índios Gigantes - símbolo do poder do homem da floresta. Senti cordialidade por parte do temido General diante de tal presente.

Após as despedidas, e já no carro oficial do Governador Fragelli, confidenciou a este, que o Estado seria dividido e que a notícia não poderia ser vazada. O Presidente ficou convencido, após a sua visita, que a fábrica de gente e de conhecimento no Coxipó, daria sustentação à sua tese de re-divisão territorial do Brasil. E essa notícia não vazou mesmo!

Completando 39 anos, a UFMT tem novas missões. O passado nos ensina que o poder não pode centralizar-se nas mãos de alguns. Precisamos recordar que a criação da UFMT veio exatamente para oferecer oportunidades a todos, especialmente aos menos favorecidos economicamente, e assim continuar a criar condições de desenvolvimento no Estado para o surgimento de um novo Brasil.

Esta é a genética da nossa balzaquiana UFMT.

Gabriel Novis Neves
09 de Dezembro de 2009

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