sábado, 7 de abril de 2012

LEILÃO


Houve uma tentativa de leilão de dois super carros, ou melhor, de duas verdadeiras máquinas de corrida, aqui em Cuiabá.
Pessoas ricas de todo o Brasil, e aquelas nem tão ricas assim, encheram o salão da Receita Federal onde aqueles cobiçados carros - com currículos curiosíssimos - seriam finalmente leiloados.
Dizem que esses carros foram apreendidos, há muitos anos, em uma operação de combate ao contrabando na nossa imensa fronteira.
A euforia dos ricos descrevendo a árvore genealógica dos carros vale como distração de aula de futilidades.
Ouvi dizer que uma das máquinas do frustrado leilão, não chegava a ter meia centena de unidades no mundo. O outro carro também era objeto de cobiça de colecionadores milionários devido a sua beleza.
Gente rica, na maioria das vezes, tem hábitos sofisticados e comportamentos diferenciados. Algumas são de difícil trato, embora se esforcem para não demonstrar o que realmente são.
São tratadas como pessoas especiais, quase veneráveis. O que menos importa aos admiradores dos ricos, especialmente dos novos ricos, é o caminho por eles percorrido.
Povo gosta de rico - e o Brasil está se transformando em um fértil ninho para essa categoria de seres privilegiados e exóticos.
Rico costuma debochar de quem estuda e, com a maior naturalidade, demonstra o seu rei - o cartão de crédito internacional.
As estatísticas nos informam que a cada dia nascem dezenove milionários no país, que tem como principal programa de governo o combate à miséria.
"Quando morre um rico, este fato não piora nem um pouco a vida dos pobres. Já os pobres, fazem falta na sua imensa solidariedade inocente."
Cuiabá possui uma pequena comunidade de milionários e um mundão de gente fingindo ser milionário e levando vida de milionário.
Não me peçam para explicar esse milagre – pois não o saberia fazer. Na “praça” existem centenas de milionários falsificados.
Cuiabá foi vítima de um cruel esvaziamento, dando a impressão de cidade abandonada por ocasião das festas do final do ano, emendando com o primeiro mês do calendário católico.
Não ficava bem aos milionários passarem essas festas no local onde ganham dinheiro. Isso poderia ser interpretado como caixa em baixa.
O paraíso dessa gente é uma cidade litorânea do Rio de Janeiro. Ali se reúne a nata do PIB, especialmente de São Paulo, Rio e da turma do interior carente de notoriedade.
Este ano a grande estrela desse período foi o dono do pré-sal. Há seis anos era milionário, e, agora, é bilionário. Está entre os dez homens mais ricos do mundo.
O sucesso que ele fez deixou esfumaçada as belezas naturais incomparáveis da região, onde hoje os milionários do Brasil guardam os seus navios.
Vejo barcos luxuosos no pantanal, e em algum trecho ainda não totalmente destruído do rio Cuiabá. Muitos milionários têm necessidade de badalação, e de amigos especialistas em inflar seus egos.
Não sou contra ricos, milionários ou bilionários, mas entrei nessa seara para falar do fascínio que o leilão dos carros importados exerceu sobre os ricos e sobre o impacto causado na pequena Cuiabá.
O grande final do leilão ocorreu quando reinava a grande expectativa do primeiro lance. Como por encanto, surge um oficial de justiça e entrega um documento ao leiloeiro.
Após lê-lo, encerrou o esperado leilão dos dois carros de luxo. Para os milionários de plantão o fechamento das cortinas foi uma grande frustração. A platéia estava ansiosa para conhecer os vencedores.
Nova data será marcada, com novo espetáculo de futilidades - para a glória dos milionários.
O leilão foi adiado, como muitos dos nossos problemas sociais, sendo o principal, a distribuição de renda.

Gabriel Novis Neves
30-01-2012

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