sábado, 7 de abril de 2012

VIDA E MORTE


Dentre as maravilhas criadas por Deus não sei a que mais me emociona. Tudo criado por Ele é lindo, perfeito e atinge a minha sensibilidade.
Talvez a minha profissão de médico tenha me tornado um ser privilegiado. Ao longo da minha longa vida eu tive oportunidade de observar, incontáveis vezes, o início e o fim do nosso ciclo vital terrestre.
Como médico parteiro, eu considero o choro de um recém-nascido, anunciando o início da sua vida extrauterina, uma das maravilhas criadas por Ele.
É um privilégio concedido aos aparadores de crianças presenciarem esse fenômeno - que chega a ser escandalosamente lindo com a sua variedade de sons e o show da eliminação fisiológica das secreções da bexiga e intestino.
Essa beleza visual é encerrada com a dramaticidade das grandes peças do gênero: o corte do cordão umbilical, separando fisicamente filho e mãe.
Esse ato de separação é o momento em que, por segundos, esqueço-me de tanta beleza, se isso fosse possível, para me preocupar com o futuro daquela criança.
No instante é lançada a semente da afetividade, oxigênio que nos diferencia dos seres irracionais.
Se encontrar uma terra adubada para germinar e, se tiver cuidados especiais ao longo de seu crescimento e desenvolvimento, esta semente se transformará em um fruto forte. Será, no futuro, aquele ser ciente da sua cidadania - tão carente nos tempos de hoje.
O ciclo vital terrestre, iniciado com o nosso nascimento, terá um tempo pré-determinado por Ele. E, só por Ele - apesar de todos os avanços da ciência. Muitos têm esta compreensão. E é melhor mesmo que a tenhamos, pois o que não é compreendido e entendido, onde a razão não tem razão, nos traz sofrimento e tristeza.
Como prenúncio do final da vida terrestre, eis que volta a canção do nascimento - o choro.
Segundo algumas culturas, o choro final é sinal de alegria, o que não acontece conosco. É como se o primeiro choro do nascimento fosse de ganho, e o último, de perda.
Nem ganho nem perda, apenas uma invencionice de Deus que, na sua sabedoria, sabe o que faz.
Nova vida para os que se vão e para os que ficam. Quem vai, fica na presença da saudade, e quem fica, materializa uma vida nova.
A diferença que noto é de apenas alterações de rituais daqueles que chegam e daqueles que partem.
A vida e a morte são inseparáveis, sendo uma, pré-requisito da outra.
A sabedoria popular, através dos milênios, cunhou várias frases filosóficas no sentido de acordar aqueles distraídos de pensar.
“Basta estar vivo para morrer.”
Maior verdade que essa frase - tão repetida, e que comecei a ouvi-la ainda criança - é impossível. Nela está contida toda a nossa transitoriedade terrestre.
A maior experiência que a vida nos concede, por graça de Deus, é a morte.
Morrer é viver outra realidade, com uma nova vida.

Gabriel Novis Neves
29-02-2012

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