Dentre
as maravilhas criadas por Deus não sei a que mais me emociona. Tudo criado por
Ele é lindo, perfeito e atinge a minha sensibilidade.
Talvez
a minha profissão de médico tenha me tornado um ser privilegiado. Ao longo da
minha longa vida eu tive oportunidade de observar, incontáveis vezes, o início
e o fim do nosso ciclo vital terrestre.
Como
médico parteiro, eu considero o choro de um recém-nascido, anunciando o início
da sua vida extrauterina, uma das maravilhas criadas por Ele.
É
um privilégio concedido aos aparadores de crianças presenciarem esse fenômeno -
que chega a ser escandalosamente lindo com a sua variedade de sons e o show da
eliminação fisiológica das secreções da bexiga e intestino.
Essa
beleza visual é encerrada com a dramaticidade das grandes peças do gênero: o
corte do cordão umbilical, separando fisicamente filho e mãe.
Esse
ato de separação é o momento em que, por segundos, esqueço-me de tanta
beleza, se isso fosse possível, para me preocupar com o futuro daquela criança.
No
instante é lançada a semente da afetividade, oxigênio que nos diferencia dos
seres irracionais.
Se
encontrar uma terra adubada para germinar e, se tiver cuidados especiais ao
longo de seu crescimento e desenvolvimento, esta semente se transformará em um
fruto forte. Será, no futuro, aquele ser ciente da sua cidadania - tão carente
nos tempos de hoje.
O
ciclo vital terrestre, iniciado com o nosso nascimento, terá um tempo
pré-determinado por Ele. E, só por Ele - apesar de todos os avanços da ciência.
Muitos têm esta compreensão. E é melhor mesmo que a tenhamos, pois o que não é
compreendido e entendido, onde a razão não tem razão, nos traz sofrimento e
tristeza.
Como
prenúncio do final da vida terrestre, eis que volta a canção do nascimento - o
choro.
Segundo
algumas culturas, o choro final é sinal de alegria, o que não acontece conosco.
É como se o primeiro choro do nascimento fosse de ganho, e o último, de perda.
Nem
ganho nem perda, apenas uma invencionice de Deus que, na sua sabedoria, sabe o
que faz.
Nova
vida para os que se vão e para os que ficam. Quem vai, fica na presença da
saudade, e quem fica, materializa uma vida nova.
A
diferença que noto é de apenas alterações de rituais daqueles que chegam e
daqueles que partem.
A
vida e a morte são inseparáveis, sendo uma, pré-requisito da outra.
A
sabedoria popular, através dos milênios, cunhou várias frases filosóficas no
sentido de acordar aqueles distraídos de pensar.
“Basta
estar vivo para morrer.”
Maior
verdade que essa frase - tão repetida, e que comecei a ouvi-la ainda criança -
é impossível. Nela está contida toda a nossa transitoriedade terrestre.
A
maior experiência que a vida nos concede, por graça de Deus, é a morte.
Morrer
é viver outra realidade, com uma nova vida.
Gabriel
Novis Neves
29-02-2012
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