Muitos
me perguntaram por que não aproveitei a recente cirurgia que fiz no nariz para
uma repaginação geral.
Repaginação,
em termos estéticos, significa a correção cirúrgica das marcas do tempo no
nosso corpo, especialmente da parte mais exposta que é o rosto, ou era, não sei
mais - depois das fantasias de pintura do corpo nu durante o carnaval.
Como
se a retirada das bolsas palpebrais inferiores, da queda das pálpebras
superiores, das rugas da testa, das papadas submaxilares, do afinamento dos
lábios, do pescoço sanfonado, da perda de gordura das regiões malares e a
incrível sobra de pele no rosto, pudesse restituir a juventude.
Estou
com o jornal aberto na página social. Noventa e nove por cento das mulheres que
frequentam as páginas sociais, e são consideradas destaques, já passaram pelo
bisturi de um cirurgião plástico, fazem dermatologia estética, massagens, e
tantas outras novidades para tentar recuperar um tempo que passou e com o qual
elas não se conformam.
Na
vida tudo passa. Inclusive a bandinha do Chico Buarque - e é tão bonito
lembrar-se dela na voz da Nara Leão.
Aposto
que ninguém nunca pensou em modernizar a banda do Chico, com música eletrônica
e bailarinas do Ratinho. Ficaria horrível, com certeza.
Analiso
no jornal fotos de um grupo de senhoras. Todas apresentam sequelas do bisturi
da juventude.
A
fisionomia delas é cirúrgica. Democraticamente, um bom cartão bancário deixou a
todas praticamente iguais e artificiais.
Uma
sugestão gratuita para essa gente: durante a sessão de fotos, não acreditem na
conversa dos fotógrafos que ficam a pedir sorrisos naturais. Tudo que ficou no
rosto é artificial.
O
sorriso prejudica todo o conjunto. A retirada de pele excedente, preenchimentos
com produtos químicos, placas de silicone e o uso indiscriminado do popular
botox, faz com que, sorrindo, toda essa estrutura de embelezamento seja
repuxada, deixando as sorridentes plastificadas com olhos orientais, com
diminuta abertura visual.
Os
lábios, fonte inspiradora de poetas, compositores, boêmios e de cantores, como
o Orlando Silva em seu imortal Lábios que Beijei , são transformados em
estruturas rígidas, verdadeiros lábios que ninguém beijará.
A
testa, que nada mais é que a região frontal, onde aprendemos a fazer o sinal da
cruz, é transformada, pela ilusão do rejuvenescimento, em verdadeiras pistas de
dança no gelo.
Mulheres
bonitas são transformadas em mulheres caricatas, sem ao menos possuir um elo
com o passado, como se isso fosse possível.
Voltando
ao meu caso. Diante das perguntas e das censuras por não ter aproveitado a
oportunidade para ficar mais jovem, respondi que, se fizesse a tal repaginada,
estaria jogando no lixo do esquecimento a história do meu envelhecimento.
Conto
depois com detalhes - a quem se interessar - o significado e a origem de cada
marca que o tempo deixou estampada em meu rosto.
Continuarei
como estou. Quero morrer virgem da vaidade artificial.
Gabriel
Novis Neves
04-03-2012
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