Dizem
que o brasileiro tem memória curta, esquecendo facilmente dos seus
“benfeitores”, razão pela qual está sempre à procura de um.
Se
alguém estiver sem fazer nada, e fizer uma rápida revisão nos últimos anos da
nossa história, irá se surpreender com estrelas que apareceram e desapareceram,
sem deixarem o mínimo de rastro no firmamento.
O
espada de ouro, o homem da vassoura, o corvo, o cabo que comandava almirante, o
cunhado que não era parente. O castelo, o costa, o radinho no ouvido, o
alemão, o cheiro de cavalo. O ex que foi titular, o caçador de marajás, o
topete, o PhD, sapo barbudo, e tantos que rapidamente caíram no esquecimento.
O
Ibope ajuda a esquecer dessas figuras, que um dia se julgaram queridas,
inesquecíveis, imortais.
Isso
para ficar, com os principais, pois a fila é longa.
Quantos
se lembram de alguns feriados nacionais, que foram banidos do nosso calendário
cívico, edifícios públicos que tiverem o nome dos seus personagens mudados,
assim como de ruas e avenidas?
Bem
antigamente na ex-Cidade Verde, esse troca-troca de nomes em logradouros
públicos, era chamado de oportunismo administrativo.
Agora,
ninguém está mais ligando pra nada.
Indago
aos habituais frequentadores dos desfiles cívicos militares do comemorado 31 de
março, se não sentem saudades dessas festas?
Esqueceram
da data, que lhes propiciou muitas conquistas pessoais, e durantes anos foi
uma data tão cara a eles.
Alguém
se lembra do nome do prefeito de Cuiabá, que sancionou a lei mudando o nome de
uma avenida de nome tão cuiabano, para 31 de Março?
O
tempo é um apagador da memória histórica, só que no Brasil é movido à energia
nuclear, tamanha a sua velocidade e poder de destruição.
Estevão
de Mendonça foi perfeito, quando cunhou a frase - “Morre duas vezes, quem
morre em Cuiabá, da morte física e da morte do esquecimento.”
Jamais
esquecerei o dia 31 de março de 1964. Não havia completado 29 anos de idade,
estava casado há menos de três meses. Era uma terça feira, dia do meu plantão
no Hospital Souza Aguiar, equipe Catta-Preta no Rio de Janeiro.
Ao
vestir o uniforme para o plantão, o serviço de alto-falante do hospital me
convoca e ao saudoso Augusto Paulino Neto, para comparecer com urgência, ao
gabinete do diretor Dr. Brito Cunha.
O
ambiente que encontramos era de guerra, e a orientação foi pesadamente passada
a nós.
“Não
sei o que acontecerá no Rio de Janeiro. Montamos vários hospitais de campanha
em pontos estratégicos da cidade, para a iminente guerra civil. Vocês ficarão
no hospital, dentro do Palácio Guanabara.
Sairão
daqui com um colete para proteção do tórax, deitados no piso de uma ambulância
particular. Boa sorte, e que Deus nos proteja”.
Olhei
para o Augusto, ele para mim onde não trocamos uma palavra. Nosso pensamento
era idêntico - seguir o Juramento de Hipócrates.
Um
rápido filme passou pela minha cabeça - mulher, família distante, e aquela
situação.
No
palácio Guanabara, assisti atos de desprendimento pela vida, assim como
as fragilidades humanas.
31
de março será uma data inesquecível para quem no palco dos acontecimentos
assistiu grande parte da verdadeira história da briga entre militares e civis
pela tomada do poder.
Já
li muita “estória” escrita sobre essa fatídica terça feira. A realidade foi bem
diferente.
Não
tenho memória curta, apenas me divirto com as deformações dos fatos históricos,
que abomino.
Gabriel
Novis Neves
31-03-2012
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