quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Manhã escura

Hoje acordei mais cedo do que de costume. Saí para a minha caminhada com as luzes das ruas ainda acesas. O céu apresentava aquela coloração indescritível, anunciando que o Rei Sol estava por despertar. Na rua, ninguém transitava - nem mesmo os cães vadios que às vezes perambulavam por ali me fazendo companhia. O costumeiro barulho dos ônibus, carros, motos também não se fazia presente. Silêncio total. Melhor assim. Como dizia Chaplin: “o som aniquila a grande beleza do silêncio”.

Caminhei durante sessenta e tres minutos e pude constatar o quanto de beleza existe no silêncio. O primeiro impacto, para quem não está acostumado, é assustador. Porém, o silêncio reinante à minha volta me fez sentir “abraçado” pela natureza e me senti reconfortado. A natureza é uma fonte inesgotável de inspiração. Eis que de repente me vi envolto pelos sons melodiosos dos pássaros da primavera. Eles saíam de suas moradas – as árvores - para saudarem o novo dia.

Ouvi acordes de violinos, pianos, tambores, percussão e “vozes afinadíssimas e belas”. Tive a impressão que alguém me tinha visto: “bem-te-vi”, gritava um dos pássaros mais populares do Brasil. Às vezes eram ordens para “picar o pau.” Garanto que tinha pássaros assanhados - os “sanhaços”.

As músicas instrumentais faziam a alegria do solitário andarilho. Destaque para o canto melodioso do sabiá – ave símbolo do Brasil. O sabiá – imortalizado na “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias – é fonte de inspiração para incontáveis poetas, pois canta na primavera, a estação do amor.

Durante alguns minutos tive a companhia de uma pomba – símbolo da paz e da harmonia. Como é elegante a pomba! Um andar majestoso! Ela ia caminhando e arrulhando – talvez chamando pelo companheiro. Ela não se assustou com a minha companhia, pois deve ter pensado que quem acorda de madrugada, com os passarinhos, má pessoa não é.

Quem resiste aos sons do João-de-barro, andorinha, cavaleirinho, cabeça-de-fogo, pássaro preto? Cheguei até a vislumbrar um bico-de-agulha saboreando um suculento mamão.

Cheguei ao fim da minha caminhada mais leve. Impregnado pelo aroma das flores da primavera e pela filarmônica dos pássaros. O meu coração solitário definitivamente não aprecia a promiscuidade do barulho. O que ele quer mesmo é escutar o som do silêncio – tão amigável e tranquilizador!


Gabriel Novis Neves (7.5+117)

31-10-2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.