sábado, 13 de novembro de 2010

A sesta

É um dos inúmeros hábitos culturais que herdei dos meus antepassados. Quando criança, meus pais almoçavam com roupas de dormir e da mesa de refeições já saíam cambaleantes de sono para a cama. O tempo da sesta não passava de cinqüenta minutos.

Depois era o banho frio com água do depósito, retirada com lata de banha de dois quilos. Papai voltava para o segundo expediente do “bar”, “zero quilômetro”, e nós também.

Levei este hábito para o Rio de Janeiro quando fui estudar. Encontrei vários colegas do interior do Brasil que também tinham essa mania.

Os cariocas dificilmente faziam a sesta; era uma sabedoria do interior.

Casei-me com uma argentino-carioca. No início ela achava esquisito esse meu hábito, mas foi só no inicio - iniciozinho mesmo.

Quando pela primeira vez “experimentou” a sesta, ficou fã de carteirinha e até sofisticou o ritual. Seus filhos todos foram consequência da sesta. Surgiu então a “sesta gestação”!...

Até sua partida para o mundo melhor, era fanática por uma sesta. No dia em que Nossa Senhora veio buscá-la, pediu que a esperasse completar a sesta para a viagem da saudade. E assim foi feito.

Ontem me ocorreu um fenômeno que não me lembro de ter acontecido nesses setenta e cinco anos de sesta. Tive um pesadelo com algo que, dizem, significa uma má notícia que irei receber.

Sonhei que fui procurar tratamento dentário no Hospital Souza Aguiar, no Rio de Janeiro. Estava acompanhado de um filho menor.

No final dos anos cinquenta e início dos sessenta trabalhei nesse Hospital. Deixei-o quando retornei para Cuiabá. Naquela época não tinha filhos.

O pesadelo da sesta foi muito confuso. Resolvi levantar-me, tomar uma xícara de café esperto e escrever este artigo.

Os antigos me ensinaram que não é bom sonhar com dentes, especialmente durante a sesta. Será que receberei notícias desagradáveis?

Minha Nossa Senhora! Protegei-me! Pensei que a cota a mim destinada de notícias tristes e desagradáveis tinha acabado. Ou que pelo menos me fossem dar uma trégua.

“Não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem.”

Gabriel Novis Neves (7.5+118)

01-11-2010

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