quinta-feira, 16 de maio de 2013

INTERIOR


Sempre foi assim. O homem do interior, especialmente de Mato Grosso, só tem o seu valor reconhecido se conseguir o selo de qualidade de um centro mais desenvolvido.
Há anos os nativos denunciam o abandono do nosso Estado. São vistos por aqui como pessimistas.
Com o advento do agronegócio a imprensa tupiniquim esqueceu os nossos problemas de infraestrutura – que alavancaria o desenvolvimento do Estado - e criou heróis e mitos desta atividade econômica.
Surgiram assim os defensores políticos da agricultura, os reis, os barões e os eficientes e modernos empresários.  Na verdade, eles são verdadeiros predadores das nossas riquezas naturais.
Encheram os bolsos de dinheiro fácil e, sempre protegidos por poderosos lobistas incrustados em todos os setores da vida pública, passaram a imagem de benfeitores.
Conseguiram poder político, inicialmente utilizando-se de laranjas. Depois tomaram coragem e assumiram o poder.
Sempre submissos ao poder central, nunca endureceram o jogo para as nossas reivindicações.
Mato Grosso é o maior produtor de grãos do Brasil. Precisa colocar esse produto no mercado internacional.
Nesses últimos vinte anos assistimos várias inaugurações da nossa ferrovia.
Duas com FHC (oito anos no poder) e companhia. Depois algumas com Lula-Dilma (até agora, dez anos no governo). Basta haver uma eleição para que a turma de candidatos apareça em uma foto dentro do trem.
Chegar aos portos de Santarém (Pará), Itaqui (Maranhão) e Santos (São Paulo) - que é bom, o Fantástico mostrou e chocou ao Brasil.

Todo mundo viu a trajédia das nossas rodovias, desespero dos agricultores e humilhação dos caminhoneiros, produto de governos incompetentes.

E o transporte terrestre, fluvial e ferroviário é quase inexistente por estas bandas.
Somos ricos, e não usufruímos das nossas riquezas por puro descaso dos nossos governantes e desinteresse da nossa gente.
Quem lucra com essa tragédia são os grandes fazendeiros, que compram toda a produção do pequeno agricultor - pois ele não tem armazéns para estocamento -, e pagam fretes rodoviários em estradas esburacadas, tornando a sua mercadoria não competitiva no mercado internacional.
Esses fatos, que eram conhecidos apenas pelo homem do interior, tal qual um furúnculo, rompeu espontaneamente na telinha da Globo para conhecimento de toda a nação.
E o causador da disseminação dessa pouca vergonha nacional não foram os profetas do caos, tampouco os torcedores do quanto pior, melhor.
A notícia do nosso abandono veio de fora e em embalagem de luxo, ingredientes de credibilidade para a gente do interior.
A Europa diminuiu seu comércio com o Brasil, e após catorze anos comprando mais, agora venderam mais para nós. Isso foi comemorado com festas na terra da Rainha da Inglaterra.
O pior é que a China, nosso principal cliente, por causa do “Custo Brasil”, está procurando países mais estruturados para o comércio internacional.
A curto e médio prazos, não há soluções para investimentos fortes em infraestrutura para atender as necessidades de transporte dos produtos do agronegócio até aos navios.
Muito se desperdiçou em dinheiro nesses últimos anos com obras faraônicas abandonadas por pura negligência.
Estamos perdendo dinheiro. Os motivos são vários. Falta de planejamento e corrupção são os principais.
Seria patriótico se a nossa imprensa fizesse permanentemente uma verdadeira blitz nesses fatores causadores do nosso atraso e denunciasse os responsáveis.
Jogar no lixo dinheiro público não acontece por acaso.
Alguém se aproveita disso.
Os santos de pés de barros não resistiriam impunemente a uma ação esclarecedora da opinião pública e desapareceriam para o bem do nosso país.
Vamos dar credibilidade ao homem sofredor do interior, que não reclama, e sim, implora por providências.
Ferrovia para Cuiabá, por enquanto, só aquela do carnaval da Mangueira.
E a nossa safra, apodrecendo.

Gabriel Novis Neves
22-04-2013

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