Segundo
Freud, as fantasias são um fio condutor para a história do sujeito, um porta
voz para o inconsciente.
Somos
frutos das nossas fantasias, ou seja, para cada operação mental existe uma
fantasia subjacente.
Logo
após o nascimento, estudos mostram a presença de estímulos fantasiosos do
recém-nascido com o seio materno.
Já
aos três ou quatro anos, observamos os monólogos infantis evocando pais, amigos
ou animais como personagens centrais de uma história, sempre muito encenada e
vivida através de bonecos ou similares.
Já
na adolescência, com o fervilhar dos hormônios e o aparecimento do primeiro
amor, surge um verdadeiro terremoto mental, em que as ideias sofrem uma
desorganização que, por muito prazerosa, não costuma ser duradoura. Valores são
atribuídos ao ser amado que o transforma em ser absolutamente único e
insubstituível.
Essa
expectativa hiperdimensionada, aliada ao desnudamento progressivo promovido
pelo desgaste do relacionamento, vai colocando o idealizado num patamar mais
real e, portanto, desmistificando a singularidade do ser amado.
Nos
outros envolvimentos futuros, nas chamadas fases de enamoramento, tudo se
repete, mas de uma maneira menos tempestuosa, dado o acúmulo de experiências
vividas.
Como
estamos sempre em busca de grandes emoções, estamos normalmente produzindo
substâncias a elas ligadas, tais como: endorfina, serotonina, cortisol e
adrenalina.
Durante
o estado passional montamos para o ser amado o perfil que mais nos agrada, e
nele mergulhamos com toda a intensidade. Claro que esse perfil era apenas
reflexo das nossas expectativas, portanto, falso, e na maioria das vezes, fonte
de desencanto.
Como
na vida o culpado é sempre o outro, facilmente nos eximimos dos nossos erros de
avaliação.
Os
adeptos à arte de escrever conseguem sentir e transmitir através das palavras
toda essa carga emocional, tão necessária ao bem viver. Tão melhores escritores
serão quanto mais conseguirem misturar as suas próprias fantasias com as de
seus leitores, num delicioso emaranhado em que o coletivo esteja presente.
Na
fase adulta, algumas vezes as fantasias se misturam à ânsia de poder e à
entrega ao deus do lucro, muito frequentes no mundo consumista. Pessoas com
esse modelo psicológico estarão fadadas ao desencanto e à depressão em algum
momento de suas vidas.
Na
política, a fantasia se apodera do coletivo, e os inúmeros erros históricos de
endeusamento de líderes que se tornaram monstros estão aí para confirmar isso.
A
mídia sabe muito bem como fabricar e destruir mitos em curtos prazos de tempo,
apenas jogando com a nossa capacidade de fantasiar.
Não
por acaso, nos encantamos com as artes de todos os tipos, fontes constantes
para os nossos devaneios. Os gregos, ao inventarem o teatro, já sabiam disso.
Ao
atingir a velhice, aí sim, aparece o que chamamos de sabedoria, ou seja, a
percepção verdadeira entre fantasia e realidade, chave de uma boa saúde mental.
As pessoas se tornam mais serenas, mais pragmáticas, mais cônscias do que
almejar.
Apesar
de não ser, como dizem, a melhor idade, é sem dúvida a fase de maior equilíbrio
emocional, até porque, sabedoras de que o tempo que lhes resta é curto, não
mais se permitem a perdas desnecessárias do mesmo.
Com
a chegada da senectude, já com sinais demenciais, novamente se volta o ser
humano a mergulhar nos mais diversos delírios fantasiosos, aliás muito bem
descritos nos compêndios geriátricos.
As
fantasias funcionam sempre como estruturas protetoras, sublimação dos fatos,
embelezamento dos mesmos e também como alívio pessoal.
Necessitamos
delas para viver.
Gabriel Novis Neves
26-05-2013
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