domingo, 12 de dezembro de 2010

A sombrinha

Nas minhas caminhadas matinais, quase sempre com o nascer do sol, encontro pelas calçadas e avenidas do meu bairro um número incrível de material abandonado - e dos mais variados tipos. O leitor que me acompanha sabe disso. Eu comento os achados porque eles refletem com absoluta fidelidade um dos perfis sociológico da nossa gente.

Um objeto que está se tornando arroz de festa é o guarda-chuva feminino – a sombrinha. Como encontro por aí este objeto abandonado! O último que encontrei era de uma delicadeza ímpar! Com matizes rosadas, estampava pequenos arabescos azuis e verdes. E tinha um toque extra de classe: era de seda.

A sombrinha, a bem da verdade, já tinha conhecido dias melhores. Mas, nada que um bom conserto não a recuperasse. A sombrinha abandonada é o retrato vivo de uma atitude que está se tornando costumeira na vida das pessoas: o consumismo.

As pessoas hoje em dia compram artigos em uma escala assombrosa. Não se percebe mais aquela atenção com o objeto adquirido. Estragou? Enguiçou? Quebrou? Rasgou? Desbotou? Troca por outro. Mandar consertar? Nem pensar! Fico cismando comigo mesmo: por que desta atitude está se tornando tão contumaz em nossa sociedade?

Talvez devido ao fato do mercado oferecer objetos quase que descartáveis? Tenho a impressão que as fábricas produzem, de propósito, objetos com durabilidade muito baixa. Ou será a pressa em substituir o artigo danificado? As pessoas atualmente levam uma vida agitada, e perder tempo não faz parte da programação de vida delas.

Os motivos podem ser os mais variados. Mas, por tabela, percebo que a profissão dos consertadores está cada vez mais esquecida. Presumo que os jovens nem saibam o que isto significa. Até certo tempo atrás tínhamos por hábito mandar tudo para o conserto: relógios, roupas, sapatos, sombrinhas, panelas, eletrônicos, eletrodomésticos, e até brinquedos. Para tudo tinha um conserto.

Os consertadores ainda existem. Mas parece-me que a maioria das pessoas somente opta por eles por sérias questões financeiras, ou, por questões sentimentais.

E com isso, a pequena sombrinha abandonada pela sua dona, aguarda a passagem do caminhão do lixo. No lixão, com certeza, será valorizada e resgatada por um catador de lixo.


Gabriel Novis Neves (7.5+152)

05-12-2010

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