sábado, 18 de dezembro de 2010

O porco

Até há pouco tempo os porcos eram alimentados com restos de comida, tanto nas grandes fazendas como nas pequenas granjas. Além disso, a criação de porcos era sinônimo de mau-cheiro, sujeira e grande poluição do meio ambiente.

Hoje este quadro mudou. Os porcos possuem médicos, psicólogos, nutricionistas, vivem em ambientes higiênicos, com água tratada, luz e música selecionada. Nada de chafurdar. Fazem inseminação artificial para melhorar a prole, que significa filhotes com predominância de músculos e quase nada de tecido adiposo. A famosa banha de porco é conversa para as velhas cozinheiras.

O porco atualmente leva uma vida mais digna que a dos catadores de lixo. Milhares de catadores de lixo ganham a vida retirando os rejeitos dos lixões. Sem falar que disputam o espaço com os urubus, seus grandes concorrentes. Não tenho o número de pessoas que vivem dos lixões e nem sei se o IBGE se preocupa com essa categoria social. Sei apenas que são milhares em todo o Brasil, e que a sociedade de um modo geral os ignoram.

Enquanto os porcos são paparicados, pois a sua carne é muito valorizada no mercado internacional, os nossos irmãos catadores de lixo são simplesmente ignorados, considerados mesmo como párias da sociedade.

As minorias são sempre lembradas e aduladas. Mas não os catadores de lixo. Será que os políticos pensam que eles nem fazem parte das minorias? Que estão abaixo das minorias? Em todo caso é de se estranhar que nenhum político profissional tenha se lembrado deles.

Falo isto porque está muito em moda falar em preservação do meio ambiente. Nos países do primeiro mundo, a reciclagem do lixo e a separação dos resíduos domiciliares pelos moradores já fazem parte da cultura e estão firmemente enraizadas na consciência do cidadão. Além disso, existe toda uma bem montada infra-estrutura por parte do governo para a coleta e destino do lixo. Mas, aqui? Aqui não existe nada.

Enquanto não existir essa conscientização cidadã com relação ao lixo – por pura falta de educação e descaso das autoridades públicas – os nossos catadores de lixos devem ser vistos como pequenos agentes saneadores para ajudar na preservação do meio ambiente. Trabalho de formiguinha, mas trabalho. Devem ser vistos não como párias da sociedade, mas como seres de grande valia social.

Tenho esperança que alguém se lembre dos catadores de lixo, dando-lhes um tratamento pelo menos parecido com o recebido pelos porcos.


Gabriel Novis Neves

13-12-2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.