domingo, 19 de dezembro de 2010

O CAJU

Na rua onde moro, a arborização é feita com árvores de médio e grande portes. Não são árvores frutíferas, mas produzem enormes sombras protetoras. O nosso sol não brinca em serviço; dificilmente entra de férias ou licença médica.

Caminhando dia desses por essa rua, me vi frente a um fato inusitado: uma fruta do cajueiro debaixo de uma enorme figueira. A fruta madura parecia que tinha acabado de cair da árvore. Não preciso ser policial, e muito menos detetive, para saber que aquele suculento caju foi trazido de longe.

O que mais me chamou a atenção diante daquela cena foi o abandono da fruta - um dos símbolos da nossa cidade. Parei por uns segundos diante do caju, fonte permanente de inspiração a todos que vivem no mundo dos sonhos, e fiquei a matutar: “será que apanho este caju, será que não apanho...”. Juro que fiquei na maior indecisão. Estava até com água na boca só de ver aquele caju.

Finalmente, resolvi deixar o caju onde estava - apesar do modo provocativo com que ele me olhava. Pensei: “vai que o dono do caju perdido volta para resgatá-lo. Quem não sentiria falta daquela bela fruta?”

Continuei a minha caminhada. Por umas duas ou três vezes, dei uma olhadinha para trás para ver se a caju ainda se encontrava lá. E, até quando meu olhar pode vê-lo, ele se encontrava no mesmo lugar.

No meu retorno, sou tomado pela ansiedade ao me aproximar da árvore onde estava o caju. Será que ainda encontraria aquela fruta avermelhada, com uma semente esquisita chamada de castanha?

O caju continuava no mesmo lugar. Fui tomado por uma alegria inexplicável ao ver o caju. Até chamei-o de meu caju. Imóvel, tranquilo, belo, imponente e apetitoso. O meu caju continuava intacto. Não fora vítima ainda dos predadores das ruas. Acho mesmo que não será. Tão bonito que parece que impôs certo respeito! Deve ter mexido com o emocional dos habituais arruaceiros.

Resolvi deixá-lo quieto no seu lugar. Antes de ir para casa passei na quitanda e comprei meia dúzia de cajus.


Gabriel Novis Neves (7.5+152)

05-12-2010

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