sábado, 16 de janeiro de 2010

CHOVE LÁ FORA

Cuiabá é conhecida como a cidade com duas estações meteorológicas por ano: calor com chuva e calor sem chuva. Ontem o dia foi insuportavelmente quente sem chuva. Impossível dormir sem ar refrigerado! Reclamou a minha cozinheira pela manhã.

Hoje acordo com uma discreta garoa - indicativo de que choveu a noite toda. Do vigésimo andar de onde moro faço uma avaliação sobre a minha caminhada terapêutica. Como não tenho com quem discutir os meus problemas, após analisar custo-benefício, resolvi caminhar. Com o tempo de chuva que tenho no meu currículo, descobri que as gotinhas de água que caem do céu, só incomodam se atingem o rosto. O uso de um boné com aba proeminente resolve este problema.

Na solidão das ruas desertas, em dia sem sol e chuvinha fina, e por entre poças d’água - divago. Lembrei-me de uma canção de 1957 do Tito Madi, um filho de libanês nascido em Pirajuí interior de São Paulo. O turquinho, quando criança, queria ser jogador de futebol. Seus ídolos eram o Zizinho, Jair da Rosa Pinto, Ademir Queixada e outros. O pai logo cortou essa pretensão dizendo que jogador de futebol era uma profissão sem futuro. Com a obrigação de ter um diploma, concluiu a Escola Normal da sua cidadezinha. Era professor habilitado para lecionar matemática.

Mas, do que ele gostava mesmo, além do futebol, era tocar violão e cantar as suas próprias composições. Para agradar ao pai chegou a sair de Pirajuí para lecionar em Cornélio Procópio no Paraná. Claro que não deu certo! Foi para a cidade grande e gravou uma valsa, em minha opinião, o seu maior sucesso: “Chove lá fora, e essa saudade enjoada não vai embora.” Com certeza estes versos estão na lembrança daqueles com mais de cinqüenta anos de idade ou estudiosos da música popular brasileira. Durante a minha caminhada associei essas recordações às ruas vazias e à chuvinha caindo em meus ombros.

Ao retornar para casa abro o computador e leio uma mensagem do decano dos jornalistas cuiabanos, Pedro Rocha Jucá, opinando sobre uma entrevista que eu dei para a televisão. Imediatamente fiz nova associação - desta vez entre um dos pioneiros do nosso jornalismo e do ensino superior em Mato Grosso.

Que chova fraquinho todas as madrugadas para que eu possa, talvez, descobrir novas e gostosas associações!

Gabriel Novis Neves
09/01/2009

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