quinta-feira, 18 de março de 2010

Final de Governo

É mais melancólico que final de festa. Faz parte da nossa tradição republicana o governante no início de seu mandato encher de passageiros seu barco do poder e também sentir-se abandonado em seu barco no final da viagem. É muito difícil alguém pedir para desembarcar no início da maravilhosa aventura. Conheço alguns poucos casos de pessoas esclarecidas, (do bem) que pularam do barco, antes da ratazana tomar conta de tudo.

Estamos praticamente no final de uma viagem de oito anos. Muitos já pularam fora do barco e a água já começa a ocupar os seus lugares. O comandante geralmente termina só, sendo que, às vezes, ele também abandona a embarcação. Desde que me entendo por gente observo este fenômeno. Geralmente ninguém é amigo do comandante do barco, mas dos benefícios que ele lhe pode trazer. Há troca de comandante, de passageiros não. Se não fossem os valorosos homens da polícia militar, que por disciplina cumprem ordens, o barco iria à deriva, quando não, afundaria. É nessa hora que o preparo psicológico é importante. A população nunca participa destes festejos e, no final da travessia, é a mais prejudicada.

O poder é desgastante. O cinturão de proteção ao chefe é tanta que, às vezes, ele não percebe o seu desgaste. Alimenta-se de produtos artificiais comprados a peso de ouro, por aqueles que ficam em sua companhia até o barco ancorar no porto. A esperança nunca desaparece de um bom negócio já no final da viagem. E dão-lhe pesquisas falsas, elogios encomendados, aplausos comprados, Mas o santo é de barro e, após deixar o oratório do poder, percebe que saiu do céu e agora sua vida será no inferno. Já vivemos este clima. Há um esforço para colocar em seu lugar um santo, que de tão pesado, não cabe no lugar sagrado – o oratório do poder. Se forçar, o oratório quebra.

Esta tradição republicana tão cedo não mudará. Nos Estados Unidos os comandantes do barco do poder, terminado o seu trabalho, são aposentados. Aqui o uso do cachimbo do poder faz a boca torta e muitos são mumificados em uma das dependências do barco ou nas despensas do poder.

Como é triste o final de governo!

Gabriel Novis Neves
17-06-09

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