quinta-feira, 25 de março de 2010

AMIGOS TRAIDORES

Neste período pré-eleitoral a palavra de ordem é - traição. Traição e traidores são palavras recorrentes na boca dos políticos. Ao analisar o conceito que essas personalidades imprimem às palavras traição e traidores, eu cheguei a uma triste constatação: vivo cercado de traidores!

A traição é uma palavra que se aplica a várias situações, dentre as principais cito: a social, familiar, amorosa e política. As três primeiras se revestem de características próprias e colocam frente a frente dois seres singulares e na área do privado. A política desenvolve-se em outro patamar – no público. Certa vez li num antigo artigo, “O caráter deslavado da atividade política obriga a mais honesta das criaturas a trair, a desdizer-se, a gorar expectativas.”

Mas, como diz Ruy Barbosa: “Só os burros não cometem incoerência. Só os burros não mudam de opinião.” Concordo. A pecha de traidor que os políticos tentam dar aos seus auxiliares por terem revisto valores, alterado conceitos e que se recusa a incorporar pensamentos que não os seus, é no mínimo assustador. Afinal eles não detêm nenhum cargo político, e a sua única fidelidade deve ser com eles mesmos. Se mudanças ocorrem, se o cenário muda de aspecto, se nova perspectiva é imposta, o que resta aqueles que querem se manter fiéis aos seus pontos de vista? Uma busca por outros ares que se lhe sejam respiráveis. A pior traição é aquela que fazemos a nós mesmos.

Agora, que na política existe traição, isto é fato. A história está aí para nos mostrar esta afirmação. Lembro-me da declaração de certo senador da base de sustenção do governo: “Não se faz política sem traidores.” O senador admite ser candidato a Presidente da República em 2.014, com o apoio dos traidores, digo da base de sustentação. Ele admite viver hoje com traidores, “mas quem faz política é geneticamente traidor, senão seria gerente de banco.” Esta é uma verdade ofensiva às pessoas de caráter, embora seja a nossa triste realidade.

Traição política para mim é enganar, é se aproveitar da boa fé do povo e mentir, iludir e trapacear. Prometer o que sabe que não terá condições de cumprir. É fazer política em benefício próprio. Roubar, sucatear. Assumir doutrinas com as quais não concorda com o intuito de alcançar seus objetivos de poder. É abraçar personalidades políticas famosas em público, apesar na vontade de estrangulá-lo, apenas para angariar simpatias e adesões. Poderia encher páginas e páginas enumerando essas aberrações, mas facilmente cansaria o leitor, já ciente de tudo isto.

Vivo cercado de traidores – comentei no início. Sim, vivo cercado por traidores somente no conceito dado por certos políticos. Porque os meus “traidores” são pessoas inteligentes, honestas, livres, trabalhadoras, que gostam de reunir-se pra trocarem idéias, sem preconceitos de raça, religião, ideologia, sexo, e se divertem no sentido mais humano, que é o debochar dos nossos erros, fracassos e fragilidade da nossa condição de humanos. Os “traidores” que conheço, não vendem a sua honra em feiras do poder. Vivem simplesmente o presente com dignidade. O amanhã, se existir, será outro dia a vencer.

Gabriel Novis Neves
18/03/2010

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