domingo, 21 de março de 2010

TROTEANDO

Hoje o dia amanheceu nublado, com cara de chuva. O sol estava tão tímido lá no céu que fiquei em dúvida se saía ou não para a minha caminhada matinal. Arrisco e vou. No meio do percurso, na mesma calçada em que estava - só que em sentido contrário - vem se aproximando de mim uma jovem. Não caminhava nem corria. Simplesmente troteava com uma elegância encantadora - o relógio marcava poucos minutos passados das seis horas da manhã de um sábado. Os cabelos amarelos estavam presos em um longo rabo de cavalo. Com o trotear ritmado da jovem, os cabelos balançavam suavemente prá lá e prá cá. Era hipnotizador aquele balanço! Não sei o motivo, além da perseguição à saúde perfeita, que estimulou a jovem à caminhada e não aproveitar na cama mais uns minutinhos que o sábado nos oferece. Falo isto porque a jovem – não pude deixar de reparar - não apresentava nenhuma gordura corporal excedente. A jovem cruzou por mim, fez um leve balançar de cabeça em sinal de cumprimento, e se afastou no seu trotear.

Logo a seguir São Pedro mandou água. E não economizou! Talvez em homenagem ao seu colega São José, ou como a sinalizar aos nossos agricultores que este ano terão uma excelente safra. Com a chuva pesada, carinhosamente chamada pelo cuiabano de chuva para bobo, porque parece que não vai cair e cai - e eu como bom cuiabano que sou, saí de casa assim mesmo – logo fiquei todo molhado. Enquanto caminhava na chuva em busca de um abrigo, me veio ao pensamente a jovem dos cabelos balançantes. Com certeza aquele longo rabo de cavalo, agora encharcado de água, não mais teria aquele balanço pendular tão apreciado pelos poetas. Se pareceria mais com um chicote de mal feitor. Não encontrei mais a minha companheira de molhação. Será que procurou um abrigo ou continuou o seu programa de exercícios? Sou um esforçado estudioso da alma feminina. Há meio século faço isso sem muito êxito. A alma da mulher é dotada de mistérios infindáveis. Não por isso, um poeta já profetizou: “mulher não foi feita para ser entendida, mas sim para ser amada.” A minha intuição me diz que ela continuou o seu trotear. As mulheres são mais determinadas que os homens, e mais corajosas e fortes também. Não é qualquer chuvinha que irá tirá-las do seu objetivo.

Eu por meu lado entrei no primeiro abrigo que encontrei e assim que pude abandonei a caminhada. Minha preocupação agora era com a janela do meu quarto que eu deixei aberta, pois entrei no conto da chuva pra bobo.

Gabriel Novis Neves
20/03/2010

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