sexta-feira, 17 de março de 2023

CLIMA DE CUIABÁ E COMPORTAMENTO


Diz um professor universitário, que não é cuiabano, assim como a sua mulher, que há muitos anos enfrentaram um concurso para a nossa universidade federal, foram aprovados em departamentos diferentes e adotaram Cuiabá como sua cidade.


Aqui trabalham com prazer e em breve se aposentarão, porém, continuarão morando aqui.


Leu a minha crônica sobre “Medalhas da Independência” e demorou alguns instantes para entender o que tinha postado, e me enviou seus parabéns sobre o conteúdo dela.


Esticou a conversa sobre a “data importante”, e tinha gostado de ler o resgate do nosso patriotismo!


Pediu para me contar um fato ocorrido que demonstra certo desprezo pelo nosso país.


A comemoração do 7 de setembro constituiu um antídoto nesse sentido.


“Minha esposa, que também é professora da UFMT, ouviu de outra professora, cujo marido também é professor da UFMT o seguinte”.


“No departamento do seu marido tem um professor que é peruano.


Ele está no Brasil há muitos anos e solicitou a cidadania brasileira.


Finalmente, quando saiu sua cidadania, ele foi a sala de seu colega de departamento e muito contente contou que agora também era brasileiro!


E a colega da minha esposa disse isso comentando: “coitado, comemorar a cidadania desse país de merda”!


Continua meu amigo e colega, no seu desabafo.


“Quando estudava a influência do clima sobre o comportamento em Cuiabá, diversas vezes encontrei pessoas que diziam que não gostariam de ser cuiabanas por causa do calor”.


Finalizando o gostoso bate papo ele que só veio a conhecer o meu pai pelas crônicas que escrevo e publico no bar-do-bugre, meu blog, e deixou uma pergunta para eu responder: o Bugre te falou alguma coisa a respeito de calor de Cuiabá?


Meu caro professor: meu pai nasceu em Cuiabá em 1894 e veio a falecer em 1982 e sempre morou aqui.


Desde 1920 no Bar Moderno, apelidado de Bar do Bugre, saía de casa, vestido em elegante terno, geralmente cinza sem listras, camisas sempre brancas, gravatas combinando com a cor do tecido inglês, muitas vezes de casimira inglesa.


Os sapatos pretos, sempre muito bem engraxados, com meias da cor dos sapatos.


Nunca vi meu pai com roupa esporte ou terno de cor marrom, que dizia não dar sorte, ou branca, que dizia sujar muito.


Em casa ou no bar, nunca sentiu necessidade de usar ventilador ou ar condicionado, quando este chegou aqui.


Sua casa era feita de adobe, telhado com telhas de barro, sem forro interno.


O piso era de cerâmica das mais variadas configurações e suas paredes pintadas com cores diferentes, menos o marrom.


As casas possuíam enormes janelas de madeira que permaneciam abertas o dia todo.


Meu pai e filhos dormiam o ano inteiro com cobertores das Lojas Pernambucanas.


As ruas eram arborizadas com árvores frutíferas, os quintais geralmente acabavam em outra rua, e tinham tantas árvores que impediam a penetração do sol.


Correntezas de águas do lençol freático superficial percorriam suas principais ruas.


As mulheres nunca vi reclamando do calor, mas, usavam chiques leques importados quando iam passear pelos jardins da Praça Alencastro.


Nunca estudei em escolas com ar refrigerado, que é considerado uma aberração nos dias de hoje, e as crianças iam para as aulas com uniformes cáquis com túnicas e calças compridas, e não sentiam calor.


Chegando em casa após o trabalho meu pai vestia seu uniforme oficial: pijama de tecido leve, calças e camisas de mangas compridas, com nada por baixo e chinelos.


Nunca ouvi o meu pai reclamar do calor de Cuiabá; às vezes comentava que “hoje está bom para vender cerveja”!


Gabriel Novis Neves

13-09-2022




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