sexta-feira, 10 de março de 2023

TURMA DE MEDICINA


A minha turma de Medicina da Faculdade Nacional da Universidade do Brasil tinha um grande número de alunos.


Cariocas de famílias tradicionais de médicos-professores e daqueles que adotaram a Cidade Maravilhosa para viverem.


O maior número de estudantes vinha do interior do Brasil.


Na sua imensa maioria eram de famílias com pouco recursos financeiros.


Seus pais viam na educação a única saída para melhorarem a qualidade das suas vidas e dos seus familiares.


Com os conhecimentos científicos adquiridos na faculdade, nos retornos às suas cidades natais, ajudavam o desenvolvimento social e econômico para as suas regiões de origem.


O Brasil ainda era um pais rural com grande parte da sua população, ali concentrada.


Esses jovens deixavam as pequenas cidades do interior e procuravam a cidade grande.


Desejavam realizar o seu sonho de se tornarem médicos.


Alguns recebiam pequenas mesadas dos seus pais nos primeiros anos de estudos.


Depois do terceiro ano de medicina conseguiam ganhar alguma coisa como monitores de disciplinas ou dando alguns plantões.


Ficavam alojados em “repúblicas”, que eram casas enormes coloniais nos bairros do Flamengo e Gloria, em lugares desvalorizados.


Outros alugavam vagas em quartos de pensões, em camas de com beliches.


A alimentação era em Restaurante mantido pela Previdência Social.


Depois de aprovados no vestibular, as refeições (almoço e jantar) eram servidas no restaurante universitário, ao lado da faculdade de medicina.


A casa do estudante pobre ficava nos fundos do terreno da faculdade e tinha um número reduzido de vagas.


O ensino do interior do Brasil, origem da maioria dos vestibulandos, era bem fraquinho, não competitivo com os alunos do Colégio Pedro II, Santo Ignácio e tantos outros.


Nós do interior só poderíamos estudar em escola pública para não pagar mensalidade.


Na época que colamos grau existiam no Brasil apenas 23 escolas médicas, a maioria pública.


Hoje funcionando temos mais de 350 escolas, a maioria particulares, com mensalidades de até 12 mil reais por mês.


Hoje o aluno não precisa mais sair do seu Estado para estudar medicina no Rio.


Em Cuiabá a federal foi muito bem avaliada pelo MEC.


Hoje temos funcionando 3 em Cuiabá e 6 no Estado.


Tínhamos os alunos bolsistas de todos os países sul americanos e alguns europeus, como a Itália e Alemanha.


Os acadêmicos pobres do interior eram muito amigos, unidos e gostavam de serem chamados de turma do “baixo clero”.


Nossa turma ficou menor e mais pobre com a partida no dia 29-01-2023 de um dos nossos líderes: Joseli Tanus, mineiro de Ubá. Morreu como sempre pediu aos 90 anos.


Após o almoço do domingo, com filhos (um advogado, um empresário, uma dentista e outra médica) e esposa.


Ela preparou seu prato preferido: quibe cru, pão árabe, azeite, cebola, tomate cortado e folhas de hortelã.


Morava na fazenda onde curtia sua aposentadoria, embora tivesse casa em Ubá e no Rio.


Todos os seus filhos moram e trabalham no Rio de Janeiro.


Abraços Joseli Tanus e até lá!


Gabriel Novis Neves

14-02-2023








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