quinta-feira, 19 de agosto de 2010

W. O.

Se as artísticas placas de propaganda política que encontrei espalhadas abundantemente pela cidade, votassem no primeiro domingo de outubro, não tenho a menor dúvida, que o tampão sem votos, seria reeleito por W.O. Quem visita Cuiabá tem a sensação que teremos eleições cubanas aqui, com candidato único. Que coisa gente!

Depois que a vida me obrigou a ser “dona de casa,” passei a conviver com os preços. Sei quanto custa uma cesta básica, o condomínio do apartamento onde moro, o custo do telefone e luz – assustadores. Quanto se gasta de carne branca e vermelha, as despesas do mercado na 5ª feira, o pão integral e francês, enfim tudo é muito caro por aqui.

Vendo o espetáculo das placas do candidato tampão, fiquei imaginando quanto dinheiro o pobre candidato está gastando, única e exclusivamente para nos ajudar. Ele está no grupo dos candidatos bilionários, mas essa gente não é de meter a mão no bolso. Então de onde está saindo, ou aparecendo, tanta grana para produzir o espetáculo do W.O?


Pensando nesse mistério cheguei à padaria para tomar água e um cafezinho. Senti necessidade de socializar as minhas preocupações com o aparecimento de tanto dinheiro jogado fora. Um amigo que trabalha na área fazendária estranhou a minha ingenuidade e perguntou-me se nunca tinha ouvido falar em precatórios. Disse que recentemente o governo do estado propôs pagar o que deve aos servidores do judiciário com cartas precatórias e que os funcionários não aceitaram, e continuaram em greve. “Pois é - continua o especialista - nesta eleição tem muito dinheiro de precatórios circulando no processo eleitoral.” Diante da minha ignorância, com paciência de Jó, explica-me com detalhes como funciona esse crime. Só lhe fiz uma pergunta: “então os homens estão envolvidos?” Ele balançou a cabeça afirmativamente. Quase entrei em choque quando um advogado afirmou, que só na compra de algumas máquinas, o governo reconheceu que pagou a mais quarenta e quatro milhões de reais! “Então essa cambada de ladrões do dinheiro público está na cadeia, já que confessaram o crime?” - perguntei. “Nada meu velho, todos são candidatos com direito a placas.” Já estava satisfeito com as explicações para o dinheiro das placas, quando um professor ambientalista joga mais informações. “O filé mignon nestes últimos anos foi a tal das licenças ambientais. Tinha gente especializada só em conseguir este documento e vender na praça. O dinheiro está aparecendo como placas, santinhos, adesivos, aviões, automóveis alugados e manutenção de um exército de abnegados militantes.”

Fiquei perturbado com o que ouvi. E isto tudo está na boca do povo. Sabia apenas dos sanguessugas, concorrências de cartas marcadas, compra de materiais desnecessários, os escândalos do maior concurso público do mundo, que até hoje ninguém sabe o seu custo real pois teve que ser realizado duas vezes, num evidente desperdício de dinheiro do contribuinte. Só sabia na verdade de desperdícios pequenos como a tal da oficina única, a farra na Dinamarca e a caríssima foto com todo o bando debaixo das garras das máquinas na Avenida do CPA. Um amigo que possui um dos melhores estúdios fotográficos do Brasil tem recebido inúmeros pedidos de pessoas que estavam na trágica foto, solicitando o uso de todos os recursos tecnológicos, independente de preços, para a retirada das suas imagens. Eles sempre dizem no estúdio fotográfico, que se arrependimento matasse, estariam mortos.

Retorno para casa. Arrasado e inconformado com a nossa situação política, e com a certeza de que eu sou um de milhares de trabalhadores que pagaram as placas.

Vamos continuar assim, ou tentar mudar? Eu já decidi - vou mudar.


Gabriel Novis Neves (7.5 + 32)

07-08-2010

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