sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Prioridade

Tenho por hábito demonstrar gratidão por alguém que me presta um favor. Não costumo alardear esta atitude, mas sempre que possível cito em meus artigos o nome de alguns benfeitores. Existem pessoas assim – sempre prontas a nos ajudar nos momentos complicados da nossa vida. Acho que elas nasceram com essa missão, por sinal, bela missão.

Há dois meses enfrento um sério problema com o meu computador. Não entendo patavina dessa máquina, a não ser digitar com o dedo médio da mão direita. Falei desse problema com os fuxiqueiros da padaria e logo surgiu o nome de um associado que conhecia tudo da máquina. Perguntei por ele. Em coro os fuxiqueiros me responderam: “Dormindo”. Sim, claro! Era um sábado de manhã, mês de junho, clima fresquinho, e pelo que pude entender, tinha bebido todas na noite anterior. Pedi o número do seu celular. Esperei uma hora apropriada e telefonei. O assunto era prioritário para mim. Com dificuldade agendamos um horário para a sua visita – assim que a sua situação gasosa permitisse. Ele foi. Com a lua dentro do meu escritório, mas foi. Tinha acabado de acordar. Falei do problema. Ele fez algumas manobras no teclado e disse-me que no máximo em quarenta e oito horas o problema estaria resolvido. Satisfeito, ofereço-lhe alguns pastéis que haviam sobrado do almoço. Devorou todos. Ah, acompanhado de uma lata de refresco “redondinha” que ninguém é de ferro.

Entretanto, aquelas quarenta e oito horas prometidas se transformaram em dois meses. Minha paciência estava no limite. Aí telefonei outra vez. Escutei uma coisa que me deixou estarrecido. Não é que os fuxiqueiros armaram outra vez para mim? Disse-me ele que o problema era simples, muito simples, e que ele não tinha completado o serviço para testar minha tolerância. E ainda me deu parabéns! Agora sim, minha paciência se esgotou.

Apresentei queixa ao meu advogado de pequenas causas. Foi feito um “acerto amigável” entre eles – sem o meu conhecimento. O acerto era para que eu esquecesse todo aquele inconveniente, e levasse na esportiva a brincadeira. Sim claro, entendi. O meu advogado é amigão do técnico. “O que passou, passou, esqueça!” – assim me falou o advogado.

No outro dia o meu advogado apareceu na padaria com um carrão zero. Este fato não tem nada a ver com a história. O fato é que até o flanelinha que cuidava do carro estava sabendo da brincadeira. E disparou para mim: “Doutor não fica aborrecido, a vida é assim mesmo. A única prioridade para os homens é a morte.”


Gabriel Novis Neves (7.5 + 42)

17-08-2010

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