sábado, 14 de agosto de 2010

Sumário

Estava, como toda manhã, fazendo a minha caminhada pela avenida da minha preferência. O silêncio era o meu companheiro – bendito silêncio! O dia era o ideal – domingo. É o momento do dia em que aproveito para conversar comigo. Procuro explicações e respostas para os acontecimentos do meu cotidiano. Poucos carros trafegando. Pedestres? Quase nenhum. Os carros de som da propaganda eleitoral, ainda dormiam em casa. Também pudera! Ontem trabalharam até as primeiras horas da madrugada, fazendo hora-extra.

Sábado, como todos sabem, ou é de dia de feijoada, ou de churrascada, sempre acompanhada da inevitável companheira – a redondinha. Neste período eleitoral então, a churrascada toma conta de todos os bairros! Mesmo porque é mais barata que a feijoada. É o período em que os assíduos admiradores do churrasco, ou não, contam com um ingrediente que faz toda a diferença! Os patrocinadores políticos – ou seja, os candidatos a cargos públicos. Eles patrocinam tudo: bebida, carne, som, bandeirolas. Só não patrocinam distribuição de camisetas porque a lei eleitoral não permite. A contra partida é a presença do patrocinador, para pedir votos. É o período do ano que as comunidades denominam de vacas gordas.

Conversei outro dia com um desses patrocinadores. Queria saber sobre os resultados do generoso investimento. A resposta dos amigos de ocasião das comunidades foi desanimadora! Também pudera! As comunidades, que de bobas não tem nada, fundaram o Sindicato dos Churrascos Políticos. Fortíssimo Sindicato! O Sindicato decidiu que os seus membros só irão definir o voto majoritário no segundo turno. É a malandragem fazendo escola! Eles querem lógico, esticar ao máximo o incentivo aos churrascos gratuitos eleitorais. Com relação aos cargos de deputado federal e estadual, as negociações serão diretas com cada grupo que compõem o sindicato.

Continuo a minha caminhada com altos papos comigo mesmo. Em determinado trecho deparo-me com centenas de panfletos esparramados pela calçada. Olho curioso para aquela papelada. Abaixei-me e peguei um dos panfletos, tão comuns nesta época eleitoral. A parte do papel que estava de costas, não apresentava nenhum texto. Quando o virei para cima, percebi algo escrito. Era um Sumário Laudo de um exame laboratorial! Continha nome do laboratório, tipo de exame realizado com os resultados escritos, nome do paciente, com data, mês e ano da sua realização. Todos eram recentes. Uma rubrica inelegível assinava o documento.

Se não fosse um caminhante compulsivo, jamais acreditaria naquilo que presenciei: o destino público de exames confidenciais. Retornei para casa com mais um conhecimento aprendido na rua: o “Sumário Laudo,” título do exame médico complementar, agora tinha um novo destino final - a rua.


Gabriel Novis Neves (7.5 + 26)

01-08-2010

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