segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O professor

Com a chegada da televisão à Cuiabá (ainda capital do Estado), incorporei o hábito de tomar o café da manhã assistindo ao noticiário da TV. Saía para trabalhar sempre bem informado. Durante muitos anos recebi pela manhã as boas e as más notícias, do Brasil e do mundo. A pior de todas foi o atentado terrorista às torres gêmeas em Nova - York! Vi em tempo real.

Durante a minha caminhada matinal, também vou colhendo informações do que está acontecendo na minha cidade. Hoje, por exemplo, me deparei com a queda espontânea de um enorme painel de um shopping famoso, localizado no também famoso bairro Goiabeiras. Houve necessidade de um batalhão de bombeiros para a remoção dos entulhos que ocupavam a calçada e a avenida do “sonho de consumo.” Sorte a minha ter esquecido o dinheiro em casa para a compra do pãozinho integral. Do contrário estaria em baixo dos escombros!

Mas, assistir ao noticiário na televisão tomando meu saudável café da manhã - como falei - é um hábito tão enraizado e prazeroso que me é penoso desistir dele. Mas não é que, numa dessas irritantes coincidências da vida, o meu café da manhã é justamente no horário do Programa Eleitoral Gratuito? Que maçada! Que fazer? Então resolvi: já que não posso alterar o horário do tal programa, mudo eu o meu horário do café da manhã. Solicitei, portanto a minha ajudante doméstica, que até o término do horário político gratuito (!) passarei a fazer minha primeira refeição antes dos meus exercícios. Vou ter que acordar ainda mais cedo, mas prefiro isto a ter que agüentar a hipocrisia dos discursos dos políticos. A gota d’água foi uma entrevista que assisti no tal programa gratuito. Dei um basta!

O personagem que abrilhantou o programa em questão foi um professor. Muitos leitores podem questionar: “bolas! Por que ele não muda de canal?” Acontece que eu procuro ser otimista, e dei mais uma chance para o meu otimismo. Mas tá difícil! Voltando ao professor; iniciou a entrevista com uma empáfia! Nos melhores moldes dos mestres imperiais. Sua aula de sapiência demorou doze irritantes minutos. Doze minutos com aquela cara de fotografia: sem mexer um músculo. De uma inexpressividade patética. Empatia com os telespectadores? Nenhuma. E estava ali para pedir votos! Na visão dele, o professor, tem que manter-se em posição diferenciada, para não se nivelar aos alunos. Meu Deus! Acho que ele veio da Idade Média! E continuou a nos empurrar todos os seus infinitos conhecimentos.

Desconfiei também que o professor possuía um ponto eletrônico no ouvido, ligado a alguma central de inteligência para respostas “politicamente” corretas. Deu-se mal ao justificar que votou contra o aumento da aposentadoria dos velhinhos e a invasão de terras produtivas. Com relação ao aborto, a ordem recebida era para enrolar os ouvintes para não perder votos. Conseguiu – falou, falou e não disse nada. Converteu o nosso sofrível desempenho na educação como avanço e o SUS como um sistema próximo a perfeição! O provável ponto eletrônico assoprava, e ele repetia. Disse que a péssima lei da reforma agrária foi criada no governo passado e eles simplesmente a herdaram. Estavam apenas seguindo a legislação. E por aí foi. Desconfio que ele tenha muita confiança e segurança na garupa que pegou com um ex-adversário capitalista, para continuar a servir o Brasil.

Por estas e por outras, é que, a partir de amanhã, o meu café da manhã será às cinco horas, com pão dormido, manteiga Aviação e queijo branco de minas.


Gabriel Novis Neves (7.5 + 52)

27-08-2010

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