quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Marcelândia

O Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgou dados referentes aos focos de queimadas no país. No dia 12 de agosto, às 16h30, os satélites registraram em todo o país, 13.851 focos de queimadas. Segundo o INPE, “Mato Grosso tem o maior número de incêndios do Brasil. O Estado possui 4.285 focos de queimadas.

São dados oficiais de um Instituto respeitado no mundo acadêmico e científico. Para trabalhar no INPE o candidato tem que fazer um difícil vestibular. É um curso que exige muita dedicação dos seus alunos. Depois fazem a pós-graduação, muitas vezes com estágio no exterior. Portanto, não tenho porque duvidar desses dados do INPE.

Os dados do INPE são repassados aos governos dos Estados. Mas infelizmente parece-me que Mato Grosso não possui um programa de controle, repressão e prevenção dos focos de queimadas. Dificilmente por aqui há registro de alguma providência preventiva. O governo é alertado, mas como não há investimento de peso na Defesa Civil, pouco ou nada pode fazer frente a uma catástrofe anunciada. O resultado de tanta negligência? A destruição da cidade de Marcelândia pelo fogo. O governo do estado como sempre, se isenta da culpa. “Pura sabotagem política!” – é o que o governo diz. Fiquei sem entender se a sabotagem foi do INPE que alertou com antecedência sobre a tragédia, ou do governo pela sua omissão. A triste realidade é que Marcelândia foi levada pelo fogo. Mais triste ainda é saber que toda a tragédia poderia ter sido evitada, ou grandemente amenizada.

Marcelândia foi colonizada por idealistas brasileiros, que do sul chegaram para nos ajudar. Surgiu em plena selva amazônica. A sua principal riqueza eram as árvores, transformadas em madeira. Várias madeireiras foram ali instaladas. As serrarias funcionavam dia e noite. As toras de madeira eram transportadas e vendidas para o exterior e cidades industrializadas do Brasil. Marcelândia até então era conhecida como cidade madeireira. O lixo das serrarias são as serragens ou pó de serra. Acumulados, produzem verdadeiras montanhas de um material extremamente perigoso. Com a seca, calor amazônico e ventos fortes, tornam-se facilmente inflamáveis. O governo sabia de todos esses riscos, e nenhuma providência foi tomada para evitar a catástrofe anunciada.

Marcelândia é uma pequena cidade a 800 k de Cuiabá. Um pequeno hospital (!) com 23 leitos. Não possui corpo de bombeiros, e depois da queimada da cidade, foi criada a Defesa Civil. O governador sobrevoou a cidade onde contemplou a tragédia. Imediatamente determinou aos técnicos a elaboração de projetos, para a proteção de incêndios com recursos do BNDES. Encaminhou para as vítimas do fogo, 500 cobertores, 200 cestas básicas, quatro médicos da polícia militar e duas ambulâncias do SAMU para reboco terapia.

Há 40 anos esse desastre foi previsto pela UFMT através do Projeto Aripuanã, cuja proposta central era a “Ocupação Racional da Amazônia.” Realmente a ciência e a tecnologia não são aceitas pelo estado. Parece que essas conquistas de conhecimento não são aceitas por colonizadores.

Marcelândia é a mais recente vítima do progresso. Agora é cinza e sofrimento da sua gente humilde.


Gabriel Novis Neves (7.5 + 28)

13-08-2010

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