sexta-feira, 13 de agosto de 2010

ANOITECER

Ontem estava na janela do meu sobradinho. A visão da cidade é privilegiada. Olhei para cima: o céu estava completamente azul, a lua refletia pouco de sua luz, as estrelas ainda não tinham despontado no firmamento, mas consegui ver a brilhante Vênus. Olhei para o horizonte: prédios, ou melhor, arranha-céus riscavam o céu com suas torres altas e de bela arquitetura. Olhei para baixo: ruas congestionadas por automóveis, ônibus, caminhões, motos, e até pedestres, num vai-e-vem incessante. Parecia uma cidade grande na hora do rush – trabalhadores e estudantes voltando para casa. Pareceu-me um verdadeiro caos. Procurei as horas no meu relógio de pulso. Ele marcava seis horas e trinta e quatro minutos da tarde.

Algum dia especial? Perguntei-me. Não, apenas mais uma quarta-feira comum. O jogo do Internacional será à noite, mas será realizado no México, e não na arena azul multiuso. Procurei uma razão para o monstruoso engarrafamento. Não demorei muito para achar a resposta. Muito simples: falta de planejamento urbano para a capital eterna de Mato Grosso. Nenhum governo - municipal estadual ou federal - se interessou em investir recursos em trabalhos técnicos e recursos financeiros para preparar Cuiabá para a grande cidade que agora irá sediar (!) a Copa 2014. O dinheiro sempre foi desviado para cuidar das nossas estradas. Desconfio que o objetivo fosse transformar Cuiabá em cidade dormitório.

Tenho experiência na construção de cidades modernas, com recursos federais. Sei o quanto me custou de estresse para conseguir a liberação das verbas federais, muitas vezes empenhadas, com estrangulamentos poderosos nas suas liberações. O custo que paguei por isso, e nunca cobrei, foi a minha internação em uma UTI coronariana em Brasília.

Desconheço qualquer ação positiva nos milhões prometidos ao governo do estado, que à época da euforia bradava que possuía um fundo especial de recursos para a Copa. Esse já foi utilizado para pagar o arquiteto, o funcionamento da Agecopa e a demolição do Verdão. Dinheiro do empréstimo do BNDES, só para depois das eleições. Do governo federal esse dinheiro só é citado nos comícios da situação. A nossa Prefeitura desde o primeiro momento demonstrou a sua pobreza, e não tem um vintém para investir na arena azul multiuso. E o tempo não está passando, e sim, voando.

Como o Brasil é o país do depois - depois do ano novo, depois do carnaval, depois da semana santa, depois das festas juninas, depois da semana da pátria, depois do feriadão, depois das festas Natalinas, este ano temos o grande estirarão do depois das eleições.

É! Só falta lembrar aos distraídos que depois das eleições teremos outro depois. Este sim será mais longo e complicado - a ocupação dos lotes do poder por novos moradores. Até lá a Copa já terá chegado à Cuiabá, sem nenhuma obra de grande porte, pelo menos, para sustentar o seu desenvolvimento.

Do meu sobradinho continuarei assistindo o lindo visual do engarrafamento. Espero encontrar a lua cheia.


Gabriel Novis Neves (7.5 + 34)

11-08-2010

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