quarta-feira, 5 de maio de 2010

A morte

Fomos ensinados a encarar a morte como um fenômeno natural, mas lidamos com o falecimento de entes queridos com tristeza e pesar e discutimos exaustivamente o seu significado religioso, filosófico e social, Mas, não entendemos a morte. Só os poetas a entende. Através da poesia eles transcendem este sentimento de perda, e nos apropriamos de suas palavras com avidez para dar sentido às nossas próprias vidas.

Enquanto que para nós, meros seres viventes a morte é um ato incompreensível e doloroso, para “esses seres privilegiados” – os poetas -, a interpretação da morte é de uma invejável sinceridade com o futuro feliz daqueles que partem. Não freqüentam o lugar comum, da análise sempre favorável dos que nos deixam.

Perdi um velho e querido amigo. O respeito e admiração que tinha pelo homem simples e ético foi o nosso idioma. Morreu José Fragelli! Muitos falarão sobre a sua personalidade e virtudes. Convivi publicamente com o humilde e estudioso político e advogado. Tenho inúmeras e prazerosas recordações do nosso contato e convívio – consequências de longos anos de amizade. Narrarei apenas duas que exprime tão bem o homem simples humilde e reto que foi Fragelli.

Ao deixar o Governo do Estado e o Senado da República, quando em visita à Cuiabá, ficava hospedado com a sua esposa, em uma modesta casa ao lado do quartel da polícia militar no Porto. A dona da casa era uma amiga sincera do casal, e não do político famoso. Outro registro importante: após deixar o Governo, teve a coragem e a hombridade de prestar contas do seu período governamental, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), para alunos, professores, funcionários e sociedade. Esse gesto é impossível de ser observado hoje em dia – todo mundo bem sabe por quê. Mas, logo, logo surgirá alguém para escrever a sua biografia.

Mario Quintana, com muita propriedade falava: – “Era um grande nome – ora que dúvida! Uma verdadeira glória. Um dia adoeceu, morreu, virou rua... E continuaram a pisar em cima dele.” Esta é a metamorfose que costumam fazer com os nossos ilustres, quando, após viverem em um mundo sem solidariedade humana, resolvem homenageá-los. Quintana com o encanto dos seus versos descobre compensação na morte: - “Não sabias? As nossas mortes são noticiadas como nascimentos pela imprensa do Outro Mundo.”

Dona Lourdes, Nelson, Ney e familiares, a visão poética de Quintana, nos releva o quão irrelevante é ser nome de rua; o grande homem que hoje partiu, com certeza já é manchete nos jornais do Outro Mundo.

Gabriel Novis Neves
30/04/2010

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