quarta-feira, 19 de maio de 2010

SÍNDROME DO PÂNICO

“Desculpa é a mais danosa doença do fracasso.” Cuiabá nos últimos anos tornou-se uma cidade violenta. Os números dessa tragédia são surpreendentes e assustadores. Os assaltos recorrentes a bancos, comércios, residências, repartições públicas, ônibus, posto policial, igrejas, fez com que a população andarilha chegasse ao seu limite.

A falta evidente de medidas mais severas para combater essa violência e garantir a segurança material e física da população, causa desalento e desesperança ao povo. Como se isto não bastasse o estado aprovou uma indecente lei: a de proteção policial vinte e quatro horas por dia para os ex-governadores. Essa lei é uma desprezível prova de insensibilidade pelo drama da população. Essa lei é o reconhecimento oficial da violência. Todas as autoridades deste estado têm garantida a sua segurança pública. Agora, o que não dá para compreender e aceitar é que, mesmo após deixarem os seus cargos, os ex-governadores continuem a se beneficiar desse privilégio – pago, evidentemente, com o nosso dinheiro. A maioria dos empresários e homens de dinheiro possui segurança privada.

O pato do contribuinte continua arcando com as despesas das mordomias dos grandes, e sofrendo todo tipo de violência, às vezes pagando com a própria vida pelo descaso dos nossos governantes. É difícil encontrar nesta cidade alguém que não tenha sofrido alguma espécie de violência, ou que não tenha um caso para contar.

Eu tenho um caso: certo dia minha mulher estava em um banco quando uma quadrilha de bandido, fortemente armada, tomou de assalto o local obrigando os clientes lá presentes a se deitarem no chão e não se mexerem. Daquele dia, até o seu falecimento, sofreu com esta agressão que foi vítima. E a polícia prendeu alguém? Não. O meu filho, a minha filha, a minha neta, o meu irmão, a minha cunhada e o meu sobrinho, sem contar inúmeros amigos e conhecidos, já passaram por situações de igual violência.

O medo generalizou-se. A insegurança tomou conta de todos. A população está perturbada diante de tanta ameaça e perigo. Enfim, instalou-se a Síndrome do Pânico. Essa síndrome ataca crianças, jovens e idosos de todas as raças, credos e classes sociais. Mesmo profissionais de saúde, e no meu caso, em terapia analítica, somos vencidos pelo reflexo condicionado ocasionado pela violência. Esta doença do pânico termina produzindo, como subproduto, uma doença muito mais séria que é o preconceito.

O preconceito nos leva a estereotipar o bandido. Quem de nós não se assusta e pensa no pior quando nos defrontamos com jovens humildes? Logo associamos a pobreza dos mesmos, e o seu precário aspecto físico, ao assaltante. Estamos cultuando este preconceito de difícil erradicação. Temos o exemplo dos resquícios preconceituosos da Guerra do Paraguai. Na nossa fronteira tudo de ruim que acontece no Brasil é causado pelos bandidos paraguaios. Do outro lado da fronteira a bandidagem é coisa de brasileiro.

Temos que acabar, ou tentar diminuir drasticamente a violência na nossa cidade. E isto é possível – Nova Iorque está aí como exemplo. Agora, que o governo tampão no seu primeiro dia de atuação identificou o relapso da nossa segurança pública, isto lá é verdade - especialmente com a desmontagem da Rotam. Frente a esta situação o governo lançou um estupendo plano publicitário, divulgando novas ações de combate à violência. Vamos aguardar esperançosos os resultados. Só um pequeno detalhe vem anuviar as nossas esperanças: o prometido pelo governo é tanto, tão estupendo, que está sendo difícil acreditar que se cumpra o prometido. Mas, vamos confiar!

Gabriel Novis Neves
16/05/2010

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