sexta-feira, 7 de maio de 2010

Fui Eu

Quando, após vinte e três dias como Secretário Estadual de Saúde, senti que “quem sabe faz a hora não espera acontecer”, pulei fora. Recebi pouquíssimos telefonemas de solidariedade - não consigo me lembrar de dez. Também pudera! Era início de um governo de oito anos, e vários colegas mandaram os seus escrúpulos às favas, e continuaram tocando as suas vidas. O problema era meu, e não deles. Correta a conduta. Ninguém teve a curiosidade, ou coragem, de pelo menos saber o motivo da minha saída naquelas condições. Também não fiquei me lamentando pela imprensa e esquinas de Cuiabá. Simplesmente voltei ao meu consultório e à Universidade.

Fundei o “Clube do Sábado”, aqui mesmo em minha casa, para discutir e solucionar os problemas locais, nacionais e mundiais. No Clube impera uma única lei, com um artigo: não comentar lá fora o que se discute aqui. O não cumprimento da lei de artigo único implica no desligamento imediato do sócio. Durante o café do sábado, várias personagens políticas, empresariais e jornalistas passaram pelo Clube. A pauta nunca foi cumprida e o debate, em conseqüência, nunca finalizado - numa gostosa descontração!

Mas voltando ao assunto da minha passagem e saída meteórica pela Secretaria de Saúde, um dos telefonemas que recebi foi de um "graudão" do governo federal. Ele me disse o seguinte: “Parabéns pela sua atitude e coragem. O senhor demonstrou a todos nós que não exerce o poder pelo poder. Forte abraço e sorte”. Fiquei lisonjeado, pois a congratulação veio da oposição ferrenha ao governo vigente no Estado. Pensei: “Ufa! Não estou sozinho neste Estado silencioso.” Quanta inocência meu Deus! Mal sabia que aquelas palavras se assemelhavam muito às letras de boleros mexicanos - “Palavras são palavras, apenas palavras...”.

Ao chegar ao meu consultório encontro sobre a minha mesa um colorido Boletim Informativo político - por sinal muito bem feito. Quem eu vejo na capa abraçado aos seus eternos inimigos? Nada mais nada menos do que aquele “graudão” de Brasília e autor da frase - “você não exerce o poder só pelo poder”. O pior é que estavam fazendo farta distribuição de máquinas!

Muita água passou de lá para cá debaixo da ponte. As conveniências pessoais transformaram inimigos em amigos, amigos em inimigos. O maior grileiro de terras do Brasil, em cidadão não comum. Até o cuidado com as fotos coletivas desapareceram. Todos estão no céu dos seus privilégios. Alguma coisa mudou e muito de 2003 para 2010. Acho que fui eu.

Gabriel Novis Neves
06/05/2010

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