Existe
coisa mais triste que final de tarde de domingo? Não sei explicar o porquê, mas
tenho esse sentimento de melancolia desde a infância.
Tinha
de quatro para cinco anos de idade quando mamãe nos levava - eu meus irmãos -
para passar as tardes de domingo na casa do vô Alberto. Enquanto isso, meu pai
ia trabalhar no Bar do Bugre para cobrir o descanso semanal do tio Tinô, e só
retornava para casa quando terminava a retreta na Praça Alencastro, às 21
horas.
Antes
do anoitecer, mamãe nos levava de volta para casa. Íamos a pé, e até hoje me
recordo da tristeza que se abatia sobre mim ao ver o sol se pondo, apesar da
tarde agradável que sempre passávamos na casa de meu avô.
Fazia
um rápido lanche de leite com achocolatado e procurava a cama para dormir. Nessa
época não frequentava a escola e, ao acordar, tinha o dia todo para brincar no
enorme quintal da minha casa.
Minha
imaginação nessa hora corria solta. Brincava de tudo que minha mente infantil
fabricava: construção de estradas no chão, surgimento de rios, armação de
pontes.
Quando
a fome chegava, o quintal me abastecia, principalmente com mangas de várias espécies e suculentas
jabuticabas.
Cresci
neste ambiente até alcançar a idade para ir para escola primária estadual, onde
tudo era novidade para mim, pois ingressei analfabeto e nunca tinha visto uma
carteira escolar.
Mas,
o final das tardes de domingo, apesar de todas as novidades, continuava sempre muito melancólico para mim.
Aos
17 anos deixo Cuiabá para continuar meus estudos no Rio de Janeiro. A minha
tristeza nesse período aumentou diante da beleza do mar. Senti com maior
profundidade esse desconforto olhando o sol mergulhar no fundo do oceano.
Nunca
procurei ou encontrei alguém que me desse uma explicação convincente, que julgo
ser psicológica, para esse fato.
Sou
da geração em que os adultos, quando provocados sobre tais assuntos, com
rispidez respondiam: “Pare com essas besteiras menino! Vá estudar!” Crianças
nunca eram levadas a sério nas suas angústias existenciais.
Muitos
jogam a culpa na pobre da segunda-feira, o dia da semana menos desejado.
Confesso
que não participo dessa corrente, pois considero a segunda-feira o meu dia de
sorte.
Recentemente,
lendo uma estatística de neurociências, tomei conhecimento que muitos passam
pelas minhas sensações de humor no final da tarde de domingo.
O
tratamento proposto pelos neurocientistas é o da substituição. Nesse período
você desvia a sua atenção para qualquer outra atividade, um filme por exemplo.
Para
agravar o meu desespero, no sentido de encontrar a cura da doença do final da
tarde de domingo, a neurociência explica que escrever não é substituição, pois,
quem escreve, escreve por não ser feliz.
Enfim,
o inconsciente tem razões que a neurociência ainda não explica.
Continuo
achando que os finais das tardes de domingo são muito melancólicos.
Consola-me
tomar conhecimento que essa mesma sensação é compartilhada por muitos, principalmente por aqueles que, assim
como eu, atrevem-se a questionar as suas angústias.
Gabriel
Novis Neves
20-03-2014
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