domingo, 13 de abril de 2014

Prazer longo

De todos os prazeres, com certeza, o da comida  é um dos mais longos. Por isso mesmo, um dos mais desejados.
A substituição das frustrações e dos desencontros da vida, normalmente é feita através de refeições fartas e prazerosas.
Assim, desde sempre, relacionar datas festivas especiais às comemorações, é uma prática comum em nossa sociedade.
Desde os tempos antigos dos gregos e romanos, grandes momentos de prazer e descontração estavam associados aos famosos banquetes históricos.
Inclusive, as grandes orgias estavam sempre vinculadas aos delírios gastronômicos.
Há alguns anos, muito me impressionou um filme espanhol em que os convivas se reuniam para uma grande refeição, durante a qual iam se desmoronando psicologicamente, até chegarem a um final absolutamente surreal, tal como se estivéssemos diante de uma obra de Salvador Dali.
O mundo moderno, com a pressa que o caracteriza, transformou radicalmente o ritual da alimentação, antes requintado e formal, nos poucos minutos de entrega ao “fast food”. Com isso, o mundo, não só engordou muito, como emagreceu as suas trocas emocionais durante a mesa.
Também a industrialização do setor  alimentar abreviou os longos preparos artesanais do passado, inclusive em detrimento da qualidade do ingerido.
Atualmente, só os muito abastados podem usufruir desses privilégios em restaurantes de alto custo  com chefs  para isso formados.
A grande parcela da população mundial vem, ao contrário, se alimentando de uma maneira mais errada e mais rápida.
Já é alarmante o aumento do  número de crianças obesas nos vários pontos do planeta e, com isso, o aumento de doenças decorrentes, antes raras nessa faixa etária.
A gastronomia tem sido fortemente alavancada pela economia de mercado, que vê nesse filão, altos lucros.  Não por acaso, aumentaram tanto os eventos gastronômicos e a maciça propaganda nas diversas mídias.
Não tão estigmatizado, o prazer da mesa nunca foi tão divulgado e incentivado.
Desconfio sempre das pessoas que se submetem à ditadura da  forma em detrimento de refeições saudáveis e prazerosas.
Triste a hipervalorização da beleza, num mundo tão carente de tantas outras emoções verdadeiras e muito mais impactantes.
Comer bem não é comer muito, mas sim  dar importância real à qualidade do que se come.
Nunca esquecer que o homem é essencialmente o que Pensa e o que Come.

Gabriel Novis Neves
17-03-2014

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