Dia
desses resolvi organizar as minhas coisas. Tenho o hábito (péssimo) de guardar
tudo que recebo pelo correio: contas, documentos, livros, convites etc. e sem
ler, coloco nas inúmeras gavetas que possuo em casa.
Sei
que não perco nada, mas em compensação encontrar essas preciosidades é papel de
escanfradista.
A
organização da minha vida bancária é a mais complicada. Tenho pavor a números.
Não aprendi interpretar o que recebo dos bancos. Apelo sempre a um tradutor.
Holerite
nem pensar em saber o que significa aquele entra e sai de números que no final
é uma mixuruca.
Para
dar fim a essa balbúrdia, resolvi organizá-los seguindo aquele adágio popular
de cada macaco em seu galho.
Comprei
uma pasta com vários compartimentos. Teoricamente desta vez a minha vida iria
ser organizada.
Descobri
que esse trabalho só é possível para pessoas especiais.
Passado
três meses encontrei nos separados compartimentos as mais variadas combinações.
Com
o comprovante do pagamento da energia, encontrei também o do condomínio e até a
prestação do terreno sagrado que adquiri para a minha derradeira moradia.
Tinha
até CD com conta da Sky e internet.
A
do telefone estava com as prestações do novo fogão. Desisti de ser organizado.
Em
compensação, achei tanta coisa interessante como fotos que revelavam momentos
especiais da minha vida.
Sofri
um ataque agudo do tempo passado, embora esse estado emocional não tenha
deixado sequelas.
Apenas,
aquela recordação que o tempo passou muito rápido e eu não percebi.
Acho
uma bobagem tentar reconstruir um passado. Ele não volta mais, com os seus bons
e maus momentos.
Insistir
nessa tarefa é convidar a melancolia para se apossar de nós.
Somos
hoje e, programamos viver o amanhã.
Não
é só o tempo que passa, nós também passamos.
Devemos
estar preparados para vivermos intensamente o hoje e, não perdendo tempo
arrumando correspondência.
Nosso
objetivo será sempre o amanhã com qualidade de vida.
Alimentar-se
de gavetas organizadas e recordações daquilo que elas guardam, é o caminho para
quem o futuro é incerto.
Recordar
não é viver. Sofrer, sim. É o sofrimento inútil.
Gabriel Novis Neves
28-03-2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.