Sentimento
totalmente diferente do amor em termos de intensidade e qualidade.
O
término de um grande amor é sempre acompanhado de uma grande tristeza. A
amizade não sofre nenhuma finitude, mesmo quando acompanhada de longos
afastamentos.
O
amor é uma reação química abrupta, fruto dos chamados da natureza para a
procriação, enquanto a amizade é uma descoberta lenta e irreversível de
afinidades que o tempo só faz sedimentar.
Hoje
fui agraciado com o telefonema de um
grande amigo, de trinta anos atrás. Seguimos rumos diferentes na vida. Ele foi
morar fora do Brasil, e nos perdemos de vista durante longos anos. Mas, o
simples reconhecimento de sua voz trouxe um brilho todo especial ao meu dia.
Éramos
jovens, belos, bem sucedidos nas nossas profissões, descompromissados com os
problemas materiais. Os encontros com todos os outros amigos, unidos pelos mesmos interesses, eram sempre
muito festivos.
Aliás,
nunca damos muita importância à voz de alguém, que é absolutamente única - tal
como as impressões digitais.
Conversamos
com a mesma verdade e com a mesma leveza de
outrora, como se período tão longo de afastamento em nada tivesse
interferido na confiança que sempre nutrimos mutuamente.
A
nossa conversa transcorreu com o mesmo companheirismo alegre e cúmplice de
antigamente. Falamos sobre nossa vida atual. Ele, assim como eu, foi bafejado
pela sorte nessa fase atual de nossas vidas. Fomos presenteados com alegrias e
realizações profissionais, coisa rara nesta idade.
Percebi
também que ele não tinha perdido aquela alegria de vida que tanto nos uniu no
passado, e que é o motivo que nos une ainda hoje.
Costumo
me referir a essa nossa fase atual como “linha de tiro”, uma vez que,
vislumbrando o término do período de validade, estamos sempre sujeitos a chuvas
e trovoadas e sempre na mira de um poderoso fuzil. Isso, em vez de se tornar um
fator desestimulante, passa a funcionar como um grande desafio.
O
desafio de termos de estar constantemente nos abrigando das intempéries e nos
desviando do tiroteio eminente.
Voltando
às diferenças da amizade e o amor. Por exemplo: não sei se algum dos meus
amores do passado teria me feito tão feliz com um simples telefonema.
A
diferença é que a amizade verdadeira não
deixa cicatrizes, apenas boas lembranças.
Já
o amor, com toda a posse que geralmente o acompanha, faz com que pingos d’água
do passado voltem às nossas lembranças como grandes tempestades.
A
amizade esquece e perdoa. O amor cobra e aprisiona.
Não
por acaso é tão difícil amar, e tão mais fácil fazer amigos!
Gabriel
Novis Neves
12-03-2014
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