Desde
muito cedo aprendi com a observação que um dos momentos mais tristes da
carreira de um político é quando o seu mandato está findando.
Dizem
que nesse instante os “ratos” iniciam a abandonar os porões do barco do poder e
se lançam ao mar, a procura de outro com cheiro de vitória.
A
humanidade é assim mesmo. Muito semelhante com certos animais, como o morcego -
que só abandona sua vítima após sugar a última gota de sangue.
Mesmo
ocupando por longos anos inúmeros cargos públicos importantes, nunca me iludi
com elogios e tapinhas nas costas.
Não
há sinceridade nem amizade entre políticos, e sim, afinidades para negócios
envolvendo a “Cosa Nostra”.
Um
veterano político há muitos anos contou-me uma história que ilustra bem esse
mundo paradisíaco.
Era
governador do Estado e tinha a caneta na mão, instrumento utilizado para
administrar o patrimônio público.
Mesmo
assim estava em dificuldade para montar a chapa do seu partido para disputar as
eleições municipais de um minúsculo município ribeirinho próximo a Cuiabá.
Foi
então que apelou para o seu compadre, homem de bem e muito querido na
comunidade.
Astuto
e envolvente foi à casa do velho amigo e lhe fez a proposta de aceitar ser
candidato a prefeito.
Única
coisa que deveria fazer era assinar a ficha do partido. Não precisava pedir
votos de casa em casa, fazer comícios, reuniões, tampouco gastar um centavo.
Isso
a máquina do governo se encarregaria de fazer, assim como, comprar a roupa da
posse.
Após
muitos encontros, por fidelidade ao amigo, o honesto trabalhador aceitou a
proposta. Estava prestando um favor a um homem que sempre o ajudou na educação
dos seus quinze filhos, assim pensou ele.
Eleito
quase por aclamação, tomou posse e iniciou o seu trabalho, exclusivamente
voltado ao bem estar da sua gente.
Começou
a ganhar muitos presentes, e todos os meses o seu salário aumentava. As suas
despesas pessoais e da sua família, eram pagas pela prefeitura.
Após
seis meses de mordomia que desconhecia, por lealdade, vai ao palácio do
governador comunicá-lo que iria renunciar ao cargo.
Este
pôs as mãos na cabeça e perguntou se estava lhe faltando apoio, pois a
população avaliava a sua administração como ótima.
O
humilde homem respondeu dizendo que todo mundo rouba no serviço público e ele
começou a gostar das facilidades que o poder propicia.
Se
continuasse até o final do mandato sairia da prefeitura como ladrão, situação
inimaginável e inaceitável para ele.
Agradeceu
ao compadre a oportunidade de ser um rico ladrão e renunciou ao cargo cobiçado
para ser ocupado por alguém com esse perfil. Voltou para a roça e nunca mais
quis ouvir falar em política.
O
mundo continua o mesmo. As pessoas é que mudaram, abandonando a ética na
política.
Continuam
pulando do barco afundando e, tal como os ratos, sempre atrás de uma boquinha
no serviço público, caminho aberto para aumento do seu patrimônio, salvo as
poucas e honrosas exceções.
Gabriel Novis Neves
08-03-2014
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