Quando
mais jovem até que eu gostava de fazer muitas coisas. Hoje, com o físico
vencido pela idade, tive que abdicar de algumas delas. Cito dois exemplos:
jogar futebol e fazer caminhada.
Da
falta do futebol não me ressinto muito, mas, das caminhadas! Ah, dessas sinto
enormes saudades!
Sentia-me
muito bem caminhando pelas ruas de Cuiabá liberando minhas endorfinas. Mas, fui
traído por lesões espontâneas dos meus meniscos.
Durante
as caminhadas me desligava de tudo que me trazia desprazer e me focava somente
no prazer que sentia ao observar o que o dia chegante estava trazendo de belo.
Encantava-me
o sapatinho de salto alto esquecido na calçada ou o guarda-chuva aberto e
abandonado no asfalto. Minha mente elaborava mil e uma histórias para aqueles
objetos.
O
canto e namoro dos pássaros em seus voos rasantes; as árvores floridas; o cão
vadio e amigo; o vai e vem de gente apressada; o menino indo para a escola; o
velho sentado no banco da praça observando o infinito – essas e outras tantas
outras coisas também me encantavam.
Caminhava
com minha máquina a tiracolo e fotografava cada achado ou fato interessante
que, mais tarde, se transformavam numa história fantasiosa.
E
os altos papos com os praticantes deste esporte democrático? Os parceiros
variavam e pertenciam a todas as classes sociais.
Ouvia
desde confissões de fracassos amorosos a segredos do governador do Estado.
Existia
uma ética entre os caminhantes – a ética do sigilo dos desabafos.
Como
médico, era muito solicitado a “tirar certas dúvidas” íntimas, tudo dentro do
maior respeito que as ruas merecem.
Agora,
tem uma lista de coisas que deixei de fazer por puro desprazer e outras que
nunca fiz mesmo.
Enjoei,
principalmente, das reuniões sociais e conversas políticas, mas não da política
em si, que é um exercício da cidadania.
Nunca
consegui assistir novelas, seriados ou outros entretenimentos ofertados
pela televisão de baixo poder cultural que possuímos. Em alguma época, até me
interessava por alguns programas esportivos.
Ultimamente,
sinto-me até nauseado assistindo certas partidas de futebol, e não gosto de ver
o Botafogo perder, fato este muito frequente.
Cheguei
a tal estado de saturação que tive receio de um dia enjoar de viver, mas, para
meu consolo, descobri recentemente que “desse mal não morro”, usando uma
expressão bem cuiabana.
Pelas
limitações que a idade me impôs, senti o quão prazeroso é o hábito de escrever
e publicar textos despretensiosos sem obrigatoriedade e, muito menos, pensando
em recompensas materiais.
Foi
a maneira lúdica de expor minhas fantasias neste meu outono da vida.
Muitos
não entendem essa minha forma de brincar com o tempo e com as palavras. No
entanto, muitos outros se identificam com as minhas “viagens”.
Para
esses descobridores dos meus desejos, ofereço parceria nesse exercício
intelectual e vivencial.
Tenho
certeza que não deixarei de gostar das coisas belas da vida, pois isso é
felicidade.
Sou
um privilegiado.
Gabriel
Novis Neves
04-02-2014
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