sexta-feira, 1 de abril de 2011

PHARMÁCIA

Há uma semana sofro as consequências desagradáveis de uma visita não esperada, muito menos desejada: a senhora virose.

Com a sua presença, fiquei assustado e angustiado – afinal na minha idade não se pode correr o risco de abrigar tão nefasta companhia.

Tinha que expulsar com urgência aquela coisa de perto de mim. É impossível transformar em palavras as sensações desagradáveis que ela causa. Para começar, todos os orifícios naturais da minha cabeça estão profundamente comprometidos nas suas funções fisiológicas.

Então procurei ajuda de um clínico geral.

Dele fui encaminhado para um otorrino, pois minhas amígdalas estavam tais quais duas bolas em brasa.

O otorrino prescreveu-me antibiótico, antiinflamatório, analgésico, gargarejo com água morna e um anti-séptico, pastilhas analgésicas. Queixei-me de um desconforto nos ouvidos, e fui parar em um especialista só para tratar de ouvido em idoso. Receitou-me um remédio para labirintite.

De lá fui a um oftalmologista. Excesso de lacrimejamento. Leve conjuntivite viral. Prescrição: umas gotinhas de colírio com corticóide e antibiótico. Como apresentava muita tosse fui encaminhado a um pneumologista.

Fiz Raio-X de tórax – lógico. Prescrição: xarope, bombinha moderna para jogar o antibiótico dentro dos meus pulmões, ingestão de muito líquido, e controle severo da temperatura axilar.

De posse de todas aquelas receitas fui à farmácia.

O balconista, diante da profusão de medicamentos, perguntou-me, de forma galhofa, se eu estava montando alguma farmácia. Respondi que aqueles remédios eram todos necessários para meu uso pessoal.

Ele percebeu o meu desconforto, e sério disse: “o senhor pode ir para casa, que daqui a pouco sai o nosso caminhão de entrega. É muita bagagem para o senhor carregar”.

Agradeci, e fui embora. Dali a pouco os remédios chegaram. Coloquei-os em cima de uma enorme bandeja.

Lembrei-me da minha tão distante infância! Quando ficava doente, lá íamos, eu e minha mãe, percorrer as três Pharmácias existentes nas proximidades de casa: a do “seo” Campos, a do “seo” Rabelo, e a do “seo” Vieira.

As Pharmácias de antigamente possuíam um ar austero, com suas prateleiras de madeira, balcão largo, uma ampla sala com rudes bancos de madeira para acomodar os pacientes - geralmente pessoas pobres, que aguardavam o momento de se consultar com o pharmacêutico.

Na maioria das vezes que fui levado à consulta na pharmácia, invariavelmente saia com envelopes de papel contendo um pó branco - era o salofeno - ou com um vidrinho de elixir paregórico – para ser tomado com moderação -, ou ainda com o abominável óleo de rícino.

Em casa a minha mãe reforçava a medicação, me obrigando a mastigar um dente de alho cru, tomar chá com casca de limão com uma colher de café de mel de abelha. Olho agora para a fartura de medicamentos na bandeja. Nunca havia sentido saudade do envelopinho do salofeno, e, claro, dos reforços da mamãe.

Mas, isso são reminiscências do passado, os tempos agora são outros. E - paciente obediente que sou – tomarei todos eles.

Em catorze dias, se não houver complicações, estarei livre dela.

Gabriel Novis Neves

28-03-2011

Um comentário:

  1. Veja só.
    Amanheci com resfriado e gripe que foi piorando durante o dia. Agora à noite, meio delirante, lembrei-me desse tal salofeno que quando eu era criança era um remédio bastante usado. Como nunca mais ouvi falar no dito cujo, vim procurar alguma coisa a respeito e encontrei o seu blog. Espero que não tenha havido nenhuma complicação com a sua virose e que os remédios não tenham feito mal. Será que ainda existe o salofeno?

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