quarta-feira, 6 de abril de 2011

Contramão

Parece que os nossos administradores públicos adoram dirigir os seus Estados de maneira perigosa. Todo o mundo moderno, às vezes sabe o caminho correto e seguro, para resolver certas dificuldades.

O grande prazer por aqui, é procurar o contrário para avaliação posterior da catástrofe.

Encontro na psicanálise uma justificativa para essa atitude, até certo ponto interessante. É uma forma de chamar a atenção para as nossas dificuldades, a possibilidade de entrar para o livro dos recordes dos absurdos, ou na pior das hipóteses ganharem um prêmio nacional como aquele do Programa Pânico na TV.

Há poucas semanas os principais jornais do Estado divulgaram diariamente um quarto de página, sobre o caos da nossa saúde pelo Informe Publicitário (matéria paga).

“O governo do Estado irá implantar um serviço de atendimento médico hospitalar, com cobertura universal, de alta resolutividade, com excelência científica, altamente humanizado, pelas OSS, a preços módicos.”

Pela primeira vez, li em um Informe Publicitário alguém comprar saúde, especialmente por preços módicos. Fui à pesquisa, e encontro em páginas amarelas de Veja, a resposta que precisava.

“O americano Robert Fogel de 84 anos foi laureado com um Prêmio Nobel em 1993. Atualmente vem se dedicando a analisar o setor de saúde. Afirma em suas pesquisas, que para os cidadãos menos abastados a melhor saída é que os abonados gastem mais. Acredita que os gastos médicos das pessoas tendem a aumentar, pelo menos até 2040. Isso porque, a princípio, a maior parte das novas tecnologias se traduzirá em instalações e equipamentos também mais dispendiosos.

“Veja o que ocorreu com o diagnóstico por imagens. Em pouco tempo, passamos de um simples raio X a imagens incrivelmente precisas.

“É um equivoco achar que as pessoas devem gastar menos com saúde. Precisamos desmistificar essa idéia. Trata-se de um investimento que lhes traz mais retorno. Em suma, as pessoas estão pagando para viver mais tempo e com mais qualidade.

“Nos países mais avançados, a grande diferença no acesso à saúde não está tanto na qualidade do tratamento, mas na conveniência. Sempre que puder o cidadão pagará para que o médico o espere, e não o inverso. Ainda assim, há uma correlação interessante entre as vantagens que os dois estratos sociais podem obter quando o sistema de saúde evolui.

“Uma comissão da Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que, em diversos lugares, a única forma de prover acesso à saúde aos mais pobres é construindo hospitais para os muito ricos. Mesmo que a população que habita o top da pirâmide de renda não precise deles, porque tem dinheiro para voar até um país vizinho e se tratar, se essas instalações estiverem disponíveis, poderão em algum momento atender os menos abastados, por meio de planos de saúde.

“Por isso, por mais paradoxal que pareça, apoiar a criação de hospitais privados no mundo em desenvolvimento é a melhor maneira de conseguir tratamento para os mais pobres.

“A geração nascida nos anos 1980 alcançará em países ricos, uma expectativa de vida de 100 anos.

“No entanto, é papel do Estado custear a saúde dos mais velhos e dos mais pobres. Cortar custos com a saúde, mas, antes de fazer isso o governo teria de verificar se o sistema está caro porque é ruim ou simplesmente porque as pessoas começaram a gastar mais. Esta última hipótese parece a mais plausível - e incontornável.”

Com as observações do Nobel, fica evidente que nos últimos anos o nosso Estado, adotou um modelo totalmente diferenciado, especialmente com o inexplicável fechamento por asfixia econômica da rede hospitalar privada.

A pequena rede privada foi totalmente desmantelada, não escapando dessa fúria nem a Capital, onde houve uma redução acentuada de leitos, com a agravante de o Estado não possuir nenhum.

Os cinco hospitais regionais do Estado, ele pretende repassar os seus problemas à iniciativa privada, que atende pelo nome de Organizações Sociais de Saúde (OSS).

Estamos na contramão da história.

Gabriel Novis Neves

04-04-2011

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