segunda-feira, 18 de abril de 2011

Morro da Luz

Nasci em uma casa que ficava na pracinha da Rua de Baixo, em frente a um morro, que tinha um gerador no seu topo central. A pracinha era, à época, passagem obrigatória dos trabalhadores da companhia de energia elétrica.

Carinhosamente, o local que abrigava o gerador, era chamado pelos cuiabanos de “Casinha da Luz,” e consequentemente o morro, de Morro da Luz.

Todo o final da tarde, com o sol querendo se esconder sentava na porta da minha casa, com o papai já de pijama, na cadeira de balanço.

Era o momento em que o plantonista da energia elétrica, passava sempre com um cabo de vassoura piaçava, para se guiar no perigoso caminho da escalada do morro.

Como dava problema esse pequeno gerador! Ninguém mais se assustava com os seus problemas técnicos. O desconforto acontecia, quando ficávamos sabendo que a falha era no Rio da Casca.

Era um privilégio morar em uma cidade que possuía um morro no seu centro.

Lembro-me de outra construção no Morro da Luz, também chamado de Morro da Prainha, que era o colégio do professor André Avelino.

Funcionava em regime de internato, e a maioria dos seus alunos era do interior e alguns rebeldes daqui.

A disciplina era exemplar.

O restante era mata fechada, exalando clorofila.

Os pés desse morro eram banhados pelas águas límpidas do Córrego da Prainha, onde peguei muito lambari, e que no período das chuvas se transformava em rio, para a alegria da gurizada.

Aquele Morro da Luz exercia em mim uma grande admiração.

Ao passar de ano no Grupo Escolar, com ótimo aproveitamento, a minha mãe pediu que eu escolhesse um presente de férias.

Não titubeei, pedi que ela me deixasse passear no Morro da Luz, para respirar o ar puro e desvendar o mistério que ficava em frente à minha casa.

Foi o meu passeio inesquecível, pelas surpresas da flora e fauna. O ar que respirava era cheiroso, e o passeio era tão prolongado que até matula levei.

Dia desses passei de carro pelo antigo Morro da Luz. Agora é um bairro.

O que restou da vegetação exala um odor fétido, denunciando falta de coleta de lixo, abandono, e virou moradia de mendigos, moradores de rua, dependentes químicos, bandidos, jovens desamparados, e toda a sorte dos periféricos sociais. A ganância imobiliária expulsou a natureza do Morro da Luz.

À noite é centro de prostituição, geralmente de menores, que vendem o seu corpo em troca de uma pedra de crack, e esconderijos de ladrões.

Triste destino de um morro, que foi destruído pelo desinteresse de várias gerações.


Gabriel Novis Neves

08-04-2011

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