terça-feira, 26 de abril de 2011

Eu que pensava

Histórias de gambiarras me fazem lembrar os meus tempos de estudante no Rio de Janeiro. Diariamente lia, nas páginas policiais dos jornais especializados em crimes e sangue, a história das gambiarras nas favelas e nos bairros mais carentes da cidade grande.

A Light batia forte, através de seus informes publicitários, sobre o prejuízo que essa tecnologia bem brasileira representava para a empresa americana.

Afinal, todos somos filhos de Deus, e um fiozinho roubando um ponto de luz para, pelo menos, assistir a uma novela, acreditava-se não ser pecado.

Essa praga alastrou-se tanto pela ex-Capital Federal que logo teve seguidores em todo o Brasil.

O preço da nossa energia elétrica chega a ser proibitivo. Quando foi implantado esse sistema de gambiarras para se ter energia elétrica grátis, ninguém pensou em infringir a lei, e sim naquele velho ditado popular: “Ladrão que rouba ladrão, tem cem anos de perdão.”

Houve um vendaval em Cuiabá. Ventos com mais de cinquenta quilômetros por hora, segundo informações oficiais.

Estava em casa almoçando no momento do tsunami cuiabano. O primeiro sinal da gravidade da ação da natureza foi o corte da energia elétrica. Foi feito fechamento de janelas e portas para tentar deixar a fúria do vento do lado de fora. Pensei no pior, pois moro no vigésimo andar de um edifício construído há vinte anos - o último da firma, que faliu.

Tive a sensação de que a qualquer momento o teto de onde moro iria despregar e eu partiria para a minha última viagem aérea, para um destino ignorado e de difícil pouso.

A fase aguda da tempestade passou e no final da tarde pude ver do meu apartamento a beleza incomparável do por-do-sol.

Mais tarde consultei a internet para saber o resultado daqueles momentos de terror.

Uma altíssima torre de televisão, encomendada e projetada há cinco anos para sustentar uma antena de TV, ganhou (!) duas irmãzinhas.

A indústria responsável pela fabricação da torre não foi consultada para o implante das gambiarras.

Não sei se esse equipamento com três antenas tinha autorização dos órgãos competentes ou se tinha uma manutenção sistemática.

A estrutura metálica da torre balançou fortemente com o vendaval e caiu. Caiu no asfalto, atingiu um caminhão e fez uma vítima fatal. A estrutura básica da torre permaneceu intacta.

Um episódio com morte, especialmente de inocentes, é doloroso.

Lembrei-me das primeiras gambiarras de roubo de energia elétrica, assim como de água; não sabia da existência de gambiarras em torres de televisão no centro de Cuiabá.

Gabriel Novis Neves

16-04-2011

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