quinta-feira, 7 de abril de 2011

ASSUNTO DIFÍCIL

Não é fácil para um cuiabano interpretar uma palavra, que muitas pessoas daqui usam com orgulho: cuiabania.

Refleti muito se valia à pena ou não discorrer sobre esse delicado assunto. Com certeza irá suscitar muitas polêmicas, e serei severamente censurado por alguns.

Cuiabania. Esta palavra não fazia parte do meu vocabulário, pelo que me lembro, até eu sair de Cuiabá para estudar.

Pensando no assunto, acredito que ela começou a ser massificada com a implantação da UFMT.

Os principais responsáveis pela conquista e implantação da UFMT são filhos da terra.

Tinham sobre os seus ombros a gigantesca tarefa de, pela educação, abrir novos caminhos para o seu povo, oportunizando a todos o ingresso no ensino superior, até então privilégio de poucos.

Na ocasião da implantação da UFMT, uma das principais preocupações dos dirigentes cuiabanos era a qualificação dos seus auxiliares.

Para tanto, fez-se necessário o recrutamento de estudiosos de outros locais de nascimento para ocupar posições de destaque na nossa UFMT, em setores onde éramos extremamente carentes.

A partir daí começamos a ouvir, num crescente, a palavra cuiabania!

Lembro-me do que aconteceu por ocasião da implantação do Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional (NDIHR).

Para a execução desse trabalho, convidamos uma pesquisadora portuguesa. Trouxe de Portugal e Espanha, nossos documentos históricos microfilmados.

Foi complicado, e delicado, convencer os defensores da cuiabania.

Outra situação em que enfrentamos com a cuiabania: o vestibular.

Os estudantes de fora ocupavam grande parte das vagas oferecidas, principalmente nos cursos nobres.

O levante dos defensores da cuiabania se fazia sentir com o refrão - “Precisamos valorizar a cuiabania.”

Agora me digam: valorizar como? Proibindo os jovens de outros Estados brasileiros de prestar vestibular aqui? Impossível, né?

Fica complicado entender a tal cuiabania.

Nos concursos públicos para professores, então, a reclamação era mais pesada. O movimento pró-cuiabania visava aproveitar os da terra. Mas eles tinham que passar no concurso. Ou não?

Apesar dos protestos, a nossa UFMT foi implantada e, construiu uma comunidade científica de qualidade. Estávamos no caminho certo.

A reitora atual não fazia parte da cuiabania, mas atualmente a nossa jovem universidade, é uma das mais procuradas no vestibular pelos estudantes brasileiros.

O Campus Universitário leva o nome de um cuiabano, que só é lembrado em teses de pós-graduação. Estranho...

Até há pouco tempo imperava a seita da cuiabania em outros órgãos públicos.

Com as provas dos concursos terceirizados, o que vale agora para o ingresso nos cargos públicos não temporários, e de remuneração compensadora, é o conhecimento.

Resultado? A maioria dos aprovados não pertence à cuiabania. Como diz o nosso ex-governador: - “Quem bejô, bejô. Quem não bejô, não beja mais.”

A expressão cuiabania, como é usada, é pejorativa para os verdadeiros cuiabanos. Tem um leve cheiro de favores, benefícios, tratamento diferenciado, privilégios e outras coisas mais, pregadas por São Matheus, aquele apóstolo do: “Primeiro os Meus”.

Vou ser bem conciso: fico aborrecido com essa palavra que fica repercutindo em meus ouvidos cuiabanos. E mais conciso ainda: não tolero, não suporto e não aceito a banalização da palavra cuiabania.

Vamos resgatar o termo cuiabania para resguardar a memória dos nossos antepassados, e não usá-lo para vantagens pessoais.

Para salvar a cuiabania, há necessidade urgente de revermos a educação que oferecemos às nossas crianças.

Que é também um assunto difícil.

Gabriel Novis Neves

28-01-2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.