segunda-feira, 18 de abril de 2011

Especial

Li com a devida atenção - afinal também paguei parte da edição – um jornal editado pelo governo do Estado – “Informe ESPECIAL”.

Possui seis páginas e quarenta e uma fotografias.

Fiquei entusiasmado com o súbito desenvolvimento do meu Estado.

Até que enfim temos um governo de verdade! Em pouco tempo corrigiu todos os erros do passado e implantou um modelo moderno de administração, centrado na meritocracia.

Nada a ver com o obsoleto modelo de loteamento do poder, causa principal dos fracassos anteriores.

Durante o meu café solitário da manhã, assisto ao noticiário da Globo News.

As imagens projetadas do meu Estado no noticiário, que é repetido de sessenta em sessenta minutos para o Brasil e o mundo, são as de um Estado primitivo.

Pensei logo em falha de edição. Todo mundo erra. Por que a Globo não?

Espero pela nova edição do noticiário, mas o texto e as imagens eram as mesmas, geradas por sua afiliada daqui.

Era o Mato Grosso real, desrespeitando e maltratando as nossas florestas, meio ambiente e, principalmente, a nossa gente.

Estradas recém inauguradas, com enormes crateras no seu asfalto, tombando caminhões de soja.

Caminhões carregados de toras de madeira, que eram árvores da nossa floresta amazônica.

Crianças do rico interior sem escolas, transporte e merenda escolar.

Hospitais fechados, sucateados, e o tráfego intenso de ambulâncias e ônibus removendo doentes para Cuiabá.

A violência institucionalizada em todo o nosso território.

A onda de homicídios em Cuiabá tornou a nossa ex-Cidade Verde, em termos percentuais, uma das capitais mais violentas do Brasil.

Já somos campeões brasileiros na modalidade arrombamento de Caixas Eletrônicos, especialmente os instalados em órgãos públicos, onde a segurança é maior.

Nada disso li no Informe que ajudei a pagar para divulgar o nosso Estado. Logo aqui!

Interessante é que o jornal publicitário não aborda nenhuma solução para os nossos graves problemas sociais, como se esses não existissem.

O enfoque é: justiça fiscal, ICMS para a cesta básica, venda de combustível, compra de novos caminhões (!), calendário de pagamento ao servidor, aumento de incentivos fiscais para a instalação de certas indústrias, etc.

Nada sobre a construção de um hospital de clínicas em Cuiabá para atender à demanda de todo o Estado no tratamento da média e alta complexidade.

Esquecimento total sobre o anunciado funcionamento em sessenta dias do hospital da criança, e nenhuma notícia sobre o social programa Fila Zero para cirurgias eletivas, que cada vez aumenta mais.

Não foi mencionado o grande projeto do governo: privatização da saúde pública como conquista.

Também ficou no esquecimento aquela historinha eleitoreira de implantar um braço da Unemat aqui, com o fechamento da nossa fábrica de analfabetos funcionais.

Os caminhões carregados de toras de madeira continuam a sair de Mato Grosso, informa a Globo News.

Gabriel Novis Neves

10-04-2011

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