sábado, 21 de junho de 2014

VESTIBULAR

Ao sair de casa no horário comercial, a impressão que tive é que a nossa cidade não se preparou para receber os jogos da Copa do Mundo padrão FIFA.
Um aluno só fica habilitado a enfrentar os competitivos e difíceis exames do vestibular ao ensino superior após oito ou nove anos de estudos. Também tivemos esse tempo para nos adequar a receber o maior evento de futebol do mundo.
Na verdade, não foi uma impressão, foi a constatação de um fato. Todas as obras estão em um ritmo frenético de construção, causando muito reboliço na cidade.
Mas, a esperança de que tudo fique de acordo com o planejado não existe. Só estão maquiando a cidade - no melhor estilo padrão Brasil.
Trabalhos que seriam realizados normalmente à noite para não prejudicar tanto a população, como recapeamento asfáltico das ruas, estão sendo executadas agora, durante vinte e quatro horas.
A cidade está toda engarrafada e seus moradores submetidos ao teste do controle emocional.
Filas intermináveis de automóveis em ruas estreitas e com as inevitáveis batidas produzidas pelos adeptos da “Lei do Gerson”- aquele que sempre quer levar vantagem.
Os velhos mestres recomendavam aos vestibulandos que na semana que antecedia ao vestibular, fizessem repouso, uma alimentação branda, assistissem a um bom filme e a terem muita confiança nos anos estudados. Nada de virar a noite revendo livros, apostilhas e macetes, pois a sorte estava lançada.
Nesta capital a ordem é executar, em uma semana, todas as obras que estavam acertadas e programadas com a FIFA e com o próprio governo brasileiro.
E, pasmem, até algumas leis do país são passíveis de transformação por exigência dessa organização privada. São estabelecidas as chamadas leis temporárias, que se enquadram à organização do evento.
Cronograma das obras não cumpridas é o mesmo que lições não feitas.
Neste momento há um pânico entre as obras concluídas e as compromissadas, ocultando um terrível mau humor entre nossos dirigentes, mais preocupados neste instante com outras ações realizadas pela Polícia Federal.
A população descrente perdeu o entusiasmo pelo seu esporte maior, e faz cara de paisagem.
Embora o exame vestibular seja uma experiência traumática para a maioria dos estudantes, especialmente os egressos das nossas escolas públicas - onde está a população de jovens mais carentes e necessitados de uma vaga no ensino superior público - não há como não se lembrar do gostoso samba “Vestibular” do Martinho da Villa para nos ajudar a viajar no tempo da travessia para o desconhecido.
Foi sugerido, diante do caos que reina em nossa cidade, que recebamos os turistas com uma expressão bem cuiabana – “a casa é sua, desculpe a bagunça”.

Gabriel Novis Neves
06-06-2014

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