quarta-feira, 25 de junho de 2014

MEDO

Situações-limite em qualquer nível são sempre acompanhadas por muito medo.
Esse talvez seja o sentimento que mais altera o funcionamento da máquina humana.
Nosso sistema nervoso não foi preparado  para o excesso de estresse  a que estamos sendo submetidos no mundo atual.
A queda do padrão de qualidade de vida, aliada à insegurança que passou a fazer parte do nosso dia a dia, são as grandes responsáveis pelo aumento das doenças, principalmente as psicossomáticas.
Estas são apenas sinais de alerta, através de distúrbios funcionais, que as doenças no seu estágio definitivo estariam se instalando.
A sensação generalizada de medo nas grandes cidades já é uma constatação, e se dissemina pelas anteriormente pacatas cidades interioranas.
Metrópoles como  o Rio de Janeiro, por exemplo, já têm os seus melhores restaurantes, serviços  médicos e dentários, boutiques, cabeleireiros, trabalhando a portas fechadas, e apenas abrem-nas mediante a identificação de seus clientes.
As ruas repletas de mendicância lembram as fotos dos centros mais pobres do planeta.
As autoridades policiais constituídas já se mostram reticentes na sua capacidade de manutenção  da ordem pública. O aumento do contingente não tem sido suficiente para a demanda  do crescimento da violência.
Ruas desertas, imediatamente após o anoitecer, lembram cidades sitiadas e contrastam com a imagem da alegria que reinava nas mesmas até alguns anos atrás.
A população, outrora considerada uma das mais descontraídas, mostra-se tensa e atenta aos menores movimentos de qualquer pessoa que se aproxime.
O outro virou  o grande  perigo.
Que saudade dos nossos medos infantis! Medo do escuro, das bruxas, dos fantasmas, dos duendes, dos animais ferozes, das tempestades ruidosas, de ficar sozinho no quarto. Medos esses que se dissipavam ao simples aconchego de nossos familiares.
Tornamo-nos adultos perplexos diante do medo dos nossos semelhantes, coisa até então inimaginável.
Vivemos literalmente cercados em nossos condomínios. Estamos perdendo progressivamente  a nossa capacidade de ir e vir, ou seja, incapazes de usufruir a liberdade sem a qual a vida perde o seu sentido.
Difícil imaginar que cidades com esse perfil tenham se comprometido a sediar uma Copa do Mundo, ou qualquer outro evento de maior porte.
Acresce a esse medo que nos invade, a frustração de saber o  mau uso do erário público. Este, que deveria prioritariamente  estar sendo usado em benfeitorias sociais é despejado  em orgia de obras  esportivas faraônicas.
O fato é que nos transformamos num bando de pessoas tristes e preocupadas com o rumo que vem tomando, não só o nosso bem estar pessoal, mas, principalmente, o do nosso país.
Atentem as autoridades que a “carneirada” já não está tão interessada em “pão e circo” como há alguns anos atrás.
Ou será que na sua onipotência eles já não frequentam as ruas, o grande termômetro do bem estar social de uma cidade?
Futebol e samba não é mais o ópio do povo, já bem mais esclarecido e ciente das suas prioridades.
A hora é essa! Providências urgentes devem ser tomadas antes  que nos transformemos num dos maiores celeiros de pobreza da humanidade.

Gabriel Novis Neves
07-05-2014

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