“O
que abunda não prejudica”, dizia o velho professor de Direito ao seu jovem
aluno que insistia sempre em uma mesma pergunta.
Fui
convidado a participar de um programa de rádio. Chegando ao estúdio notei
espalhados em cima da mesa vários exemplares de um jornal do mesmo grupo
empresarial.
A
manchete da primeira página em letras vermelhas, lembrando sangue, tinha como
título: “CAOS NA SAÚDE”.
Em
baixo em letras negras da morte: “Sindicância vai apurar falta de médicos e
mortes”.
Para
ilustrar o caso de calamidade na cidade da Copa, a Escala de Plantão Semanal do
Pronto Atendimento nas unidades de saúde, onde há falta de médicos e
especialistas.
Como
exemplo o caso de uma unidade de saúde: no período diurno apenas sete médicos
para suprirem as necessidades da Clínica Médica, e seis para a Pediatria.
No
período noturno nenhum médico.
No
único hospital público da cidade da Copa, que é o arcaico Pronto Socorro
Municipal (PSM), falta tudo. Desde
equipes de saúde, medicamentos, espaço físico e humanismo no atendimento aos
pacientes, tratados como verdadeiras mercadorias e espalhados pelos corredores,
macas, cadeiras de rodas ou deitados pelo chão.
Se
não há médicos nas unidades de saúde, o que pensar no único hospital público de
urgência e emergência onde há necessidades de especialistas e que atende a todo
o rico Estado de Mato Grosso?
A
nossa Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), além de não contar com médicos e
equipes multidisciplinares suficientes a um bom atendimento, apresenta uma
estrutura física lamentável.
Esses
fatos vêm sendo denunciados há anos, sem que as providências apareçam.
Também
pudera! “Aquilo” é para atender a gentalha, numa expressão de racismo político
criado pelo Darcy Ribeiro para justificar o desleixo para com os pobres, ser
humano de segunda categoria na visão dos nossos políticos.
O
hospital do SUS dos nossos governantes, de Brasília ao mais longínquo município
brasileiro, fica em São Paulo, onde a preferência é pelo Sírio Libanês,
favorecido pelos incentivos do BNDES.
Fecha
a nossa Santa-Casa por absolta falta de recursos por disponibilizar quase noventa
por cento dos seus leitos ao SUS, desde que continue como ilha de excelência
médica o Sírio Libanês, inacessível à gentalha.
A
primeira pergunta do programa de rádio foi saber da minha opinião sobre aqueles
incômodos acontecimentos.
“A
solução é fácil” - respondi. “Há doze anos descansa no Congresso Nacional um
projeto de lei criando a carreira de médico no serviço público”.
Ressaltei
que o problema para tanta demora - que já matou muita gente - é falta de
vontade política do Governo Federal, em conluio com nossos políticos.
Enquanto
isso, medidas demagógicas com fins eleitoreiros e de alto custo para a nação
são tomadas, como o aluguel de médicos (!) cubanos para atuar em áreas sem
médicos e sem a mínima estrutura para o exercício da sua profissão, a não ser
assinar atestado de óbito.
Muitos
médicos de aluguel estão abandonando seus postos e tentando se fixar em outros
centros, ou foragindo. A imprensa cala.
Enquanto
o Estado permanecer ausente dos problemas de saúde, o melhor é culpar os médicos
pelos desmandos e covardia do poder público, responsável por mortes e
sofrimentos, principalmente dos humildes.
Outubro
vem aí.
Gabriel
Novis Neves
27-05-2014
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