segunda-feira, 16 de junho de 2014

SAÚDE

“O que abunda não prejudica”, dizia o velho professor de Direito ao seu jovem aluno que insistia sempre em uma mesma pergunta.
Fui convidado a participar de um programa de rádio. Chegando ao estúdio notei espalhados em cima da mesa vários exemplares de um jornal do mesmo grupo empresarial.
A manchete da primeira página em letras vermelhas, lembrando sangue, tinha como título: “CAOS NA SAÚDE”.
Em baixo em letras negras da morte: “Sindicância vai apurar falta de médicos e mortes”.
Para ilustrar o caso de calamidade na cidade da Copa, a Escala de Plantão Semanal do Pronto Atendimento nas unidades de saúde, onde há falta de médicos e especialistas.
Como exemplo o caso de uma unidade de saúde: no período diurno apenas sete médicos para suprirem as necessidades da Clínica Médica, e seis para a Pediatria.
No período noturno nenhum médico.
No único hospital público da cidade da Copa, que é o arcaico Pronto Socorro Municipal (PSM), falta  tudo. Desde equipes de saúde, medicamentos, espaço físico e humanismo no atendimento aos pacientes, tratados como verdadeiras mercadorias e espalhados pelos corredores, macas, cadeiras de rodas ou deitados pelo chão.
Se não há médicos nas unidades de saúde, o que pensar no único hospital público de urgência e emergência onde há necessidades de especialistas e que atende a todo o rico Estado de Mato Grosso?
A nossa Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), além de não contar com médicos e equipes multidisciplinares suficientes a um bom atendimento, apresenta uma estrutura física lamentável.
Esses fatos vêm sendo denunciados há anos, sem que as providências apareçam.
Também pudera! “Aquilo” é para atender a gentalha, numa expressão de racismo político criado pelo Darcy Ribeiro para justificar o desleixo para com os pobres, ser humano de segunda categoria na visão dos nossos políticos.
O hospital do SUS dos nossos governantes, de Brasília ao mais longínquo município brasileiro, fica em São Paulo, onde a preferência é pelo Sírio Libanês, favorecido pelos incentivos do BNDES.
Fecha a nossa Santa-Casa por absolta falta de recursos por disponibilizar quase noventa por cento dos seus leitos ao SUS, desde que continue como ilha de excelência médica o Sírio Libanês, inacessível à gentalha.
A primeira pergunta do programa de rádio foi saber da minha opinião sobre aqueles incômodos acontecimentos.
“A solução é fácil” - respondi. “Há doze anos descansa no Congresso Nacional um projeto de lei criando a carreira de médico no serviço público”.
Ressaltei que o problema para tanta demora - que já matou muita gente - é falta de vontade política do Governo Federal, em conluio com nossos políticos.
Enquanto isso, medidas demagógicas com fins eleitoreiros e de alto custo para a nação são tomadas, como o aluguel de médicos (!) cubanos para atuar em áreas sem médicos e sem a mínima estrutura para o exercício da sua profissão, a não ser assinar atestado de óbito.
Muitos médicos de aluguel estão abandonando seus postos e tentando se fixar em outros centros, ou foragindo. A imprensa cala.
Enquanto o Estado permanecer ausente dos problemas de saúde, o melhor é culpar os médicos pelos desmandos e covardia do poder público, responsável por mortes e sofrimentos, principalmente dos humildes.
Outubro vem aí.

Gabriel Novis Neves
27-05-2014

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