terça-feira, 10 de junho de 2014

PLANEJAMENTO

Há anos o decano dos sociólogos da Universidade Federal de Mato Grosso me disse que planejamento no Brasil era oportunismo administrativo, justificando o nosso atraso como nação moderna.
O improviso dominava a ciência. Em ambiente acadêmico tal afirmativa feita com tanta convicção soou como um pecado ao ensino de qualidade.
A verdade é que nunca me esqueci daquela advertência genial e real do mestre e, quando em cargos de gestão, aproveitei-a com sucesso.
Muitos dos projetos transformados em realidade tiveram essa origem.
O exemplo mais marcante foi a construção do nosso Teatro Universitário. Ele foi construído em uma época em que os auditórios anexos às Bibliotecas Centrais eram prioridades em termos de cultura.
Eram locais para palestras dos autores que lançavam as suas obras, debates sobre literatura e congressos de erudição.
O Teatro poderia aguardar.
Nas discussões onde defendia o teatro como prioridade máxima em uma universidade em formação, descobri que a burocracia via essa cultura como privilégio das elites endinheiradas e alienadas.
Fingi-me de convencido pela visão caolha da administração superior, mas que liberava os recursos, e prometi alterar o anteprojeto arquitetônico seguindo suas sensatas e corretas orientações. Afinal, eram os “mais preparados” para opinarem.
Satisfeitos, me concederam trinta dias de prazo para o ajustamento e, provavelmente, a aprovação.
No meu retorno fiz uma reunião com o pessoal da arquitetura e planejamento da nossa UFMT e solicitei apenas que se trocasse o nome do projeto: de Teatro Universitário para Auditório da Biblioteca Central.
Fora criado o oportunismo administrativo para que se construísse em Cuiabá o único Teatro existente até hoje.
São passados quarenta e dois anos e nada mudou.
Cuiabá viu na sua escolha para subsede de quatro jogos da Copa 2014 a grande oportunidade de transformar a quase tricentenária e esquecida capital em uma metrópole moderna.
Ambicioso, o governo encomendou inúmeros projetos, feitos com esmerado planejamento, segundo fontes oficiais.
O oportunismo não foi aproveitado e todos os desacertos ficaram na conta do planejamento. Apenas o campo de futebol foi concluído e uma dívida enorme será o legado deixado em uma cidade revirada por obras inacabadas.
Por mal dos pecados não foi planejada para o mês da Copa a Operação Ararath, que chamuscou a festa da bola.
Decepção é o nome do planejamento perdido, apesar da maior oportunidade oferecida a esta cidade.
Falta alguém para explicar.
Do jeito que as coisas caminham o esclarecimento será da Justiça Federal.

Gabriel Novis Neves
28-05-2014

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