Há
anos o decano dos sociólogos da Universidade Federal de Mato Grosso me disse
que planejamento no Brasil era oportunismo administrativo, justificando o nosso
atraso como nação moderna.
O
improviso dominava a ciência. Em ambiente acadêmico tal afirmativa feita com
tanta convicção soou como um pecado ao ensino de qualidade.
A
verdade é que nunca me esqueci daquela advertência genial e real do mestre e,
quando em cargos de gestão, aproveitei-a com sucesso.
Muitos
dos projetos transformados em realidade tiveram essa origem.
O
exemplo mais marcante foi a construção do nosso Teatro Universitário. Ele foi
construído em uma época em que os auditórios anexos às Bibliotecas Centrais
eram prioridades em termos de cultura.
Eram
locais para palestras dos autores que lançavam as suas obras, debates sobre
literatura e congressos de erudição.
O
Teatro poderia aguardar.
Nas
discussões onde defendia o teatro como prioridade máxima em uma universidade em
formação, descobri que a burocracia via essa cultura como privilégio das elites
endinheiradas e alienadas.
Fingi-me
de convencido pela visão caolha da administração superior, mas que liberava os
recursos, e prometi alterar o anteprojeto arquitetônico seguindo suas sensatas
e corretas orientações. Afinal, eram os “mais preparados” para opinarem.
Satisfeitos,
me concederam trinta dias de prazo para o ajustamento e, provavelmente, a
aprovação.
No
meu retorno fiz uma reunião com o pessoal da arquitetura e planejamento da
nossa UFMT e solicitei apenas que se trocasse o nome do projeto: de Teatro
Universitário para Auditório da Biblioteca Central.
Fora
criado o oportunismo administrativo para que se construísse em Cuiabá o único
Teatro existente até hoje.
São
passados quarenta e dois anos e nada mudou.
Cuiabá
viu na sua escolha para subsede de quatro jogos da Copa 2014 a grande
oportunidade de transformar a quase tricentenária e esquecida capital em uma
metrópole moderna.
Ambicioso,
o governo encomendou inúmeros projetos, feitos com esmerado planejamento,
segundo fontes oficiais.
O
oportunismo não foi aproveitado e todos os desacertos ficaram na conta do
planejamento. Apenas o campo de futebol foi concluído e uma dívida enorme será
o legado deixado em uma cidade revirada por obras inacabadas.
Por
mal dos pecados não foi planejada para o mês da Copa a Operação Ararath, que
chamuscou a festa da bola.
Decepção
é o nome do planejamento perdido, apesar da maior oportunidade oferecida a esta
cidade.
Falta
alguém para explicar.
Do
jeito que as coisas caminham o esclarecimento será da Justiça Federal.
Gabriel
Novis Neves
28-05-2014
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