A
feijoada tem origem européia - quem diz é Câmara Cascudo, em uma citação de
Narloch. Ele conta que nem índios nem negros tinham o hábito de misturar feijão
com carne.
A
técnica do preparo da feijoada vem do Império Romano. Os europeus latinos
faziam cozidos de mistura de legumes e carnes.
Cada
região de influência romana adotou sua variação: o cozido português, a paella
espanhola. O cassoulet da França, criado no século XIV, é parecidíssimo com a
feijoada: feito com feijão branco, linguiça, salsicha e carne de porco.
Com
o feijão preto, espécie nativa da América, que os europeus adoraram, o prato
virou atração entre os brasileiros endinheirados, conclui Narloch.
Muita
gente repete a história que a feijoada nasceu nas senzalas, criada pelos
escravos com feijão e carnes desprezadas na casa-grande.
Eis
um daqueles mitos que, de tão repetidos, se tornam difíceis de derrubar. A
feijoada era uma refeição que ficou bem longe das senzalas.
Esta
história que aprendemos na escola, que a feijoada veio para o Brasil através
dos africanos, é pura fantasia.
O
brasileiro abrasileirou a feijoada européia, a ponto de colocar nos cardápios
grã finos da época: “feijoada à brasileira”, que era feita com feijão preto.
Hoje
é um dos pratos mais populares do Brasil, sendo um dos favoritos, tanto entre
as classes sociais menos privilegiadas, até aos ricaços.
O
que me fascina na feijoada brasileira é o seu ritual. Sábado é o dia dedicado à
feijoada. O aperitivo é aquela bebida feita da cana-de-açúcar para abrir o
apetite.
Feijoada
brasileira tem tantos ingredientes que virou comida oficial das Escolas de
Samba, com os seus milhares de componentes. Até a laranja entra no pacote da
feijoada completa.
Com
boa pimenta malagueta, uns copinhos da estupidamente loura gelada e ao som do
cavaquinho e do cantar das pastoras, é a genuína feijoada brasileira, genérica
da européia.
De
comida de endinheirados do Brasil colônia e europeus sofisticados, a feijoada virou
marca nacional, com o samba e rebolados das mulatas.
A
feijoada é a comida mais democrática do Brasil. Dos restaurantes de luxo às
favelas. O seu dia, repito, tem que ser sábado para alguns emendarem com o
domingo. Outros, como eu, pego uma soneca que, às vezes, me leva a acordar no
dia seguinte.
E
quem diria que a feijoada é européia, heim?
Gabriel
Novis Neves
29-12-2012
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