Como
de costume fui à padaria pela manhã. Encontrei quase todas as mesas vazias, o
que é incomum. Não sei se por conta das festas de final do ano, em que muita
gente viaja, ou, como dizem as más línguas, por medo de alguns frequentadores
com as operações, cada dia mais frequentes, da Polícia Federal.
Ouvi
comentários que alguns estão dormindo em motéis, fazendo rodízios.
Encontro,
solitário em uma solitária mesa, um eonomista-amigo e ex-aluno, lendo um artigo
deste cronista em um jornal da cidade.
- Professor, pare de falar mal das pessoas... Escreva sobre coisas boas – disse
ele para mim.
Assustei-me
com a observação, pois em meus artigos dificilmente cito nomes de pessoas vivas
ou mortas e, muito menos, falo inverdades.
É
dever do cidadão cumprir com as suas obrigações sem esperar elogios. Com
relação às coisas boas, é complicado numerá-las, devido a sua escassez.
O
meu ex-aluno me falou que as estradas do Estado e do Brasil estão ótimas.
Respondi que a minha televisão só mostrava asfalto esfarelado em recentes
estradas inauguradas, reclamação dos caminhoneiros com relação aos buracos e má
conservação das mesmas sem o mínimo de conservação e segurança para o seu uso.
A
situação da malha viária está tão precária, que o governo que combate
privatizações, está privatizando-as, como única alternativa para evitar o
colapso total no escoamento das nossas riquezas.
Brincando,
quis saber a marca da sua televisão, que deveria ser diferente da minha.
Falar
que eu fui operado com sucesso em Cuiabá, é dever do Estado, porém, a equipe
que me operou não existe no serviço público. Por outro lado, se um paciente do
SUS se submetesse a mesma cirurgia, demoraria, no mínimo, o tempo de gestação
de humanos – 9 meses. Conclusão: não dá para se calar.
Saber
que em Cuiabá centenas de crianças são abandonadas pelas mães, já que pais não
existem; que para pagar funcionários públicos, e não deixar parar as obras de
construção do campo de futebol para a Copa do Mundo, arranjos contábeis e
financeiros são feitos - e o silêncio nesses casos é criminoso.
O
terço é muito longo. Fiz uma pergunta ao meu querido aluno e leitor:
- Por acaso, neste artigo que tanto lhe incomodou, eu citei o nome de alguém?
- Não - ele respondeu. Mas a gente sabe quem é.
- Se você sabe, é porque concorda com o texto, onde relato verdades que todos
devem saber.
Assim
entendo o exercício da cidadania: o chamamento à reflexão para as atitudes
daqueles que nos ofendem com seus comportamentos anti-republicanos.
- Você sabe que tem razão, professor?
A
conversa estava encerrada. Missão cumprida. Volto para casa para o meu café da
manhã.
Gabriel
Novis Neves
29-12-2011
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