sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Conselho


Como de costume fui à padaria pela manhã. Encontrei quase todas as mesas vazias, o que é incomum. Não sei se por conta das festas de final do ano, em que muita gente viaja, ou, como dizem as más línguas, por medo de alguns frequentadores com as operações, cada dia mais frequentes, da Polícia Federal.
Ouvi comentários que alguns estão dormindo em motéis, fazendo rodízios.
Encontro, solitário em uma solitária mesa, um eonomista-amigo e ex-aluno, lendo um artigo deste cronista em um jornal da cidade.
      - Professor, pare de falar mal das pessoas... Escreva sobre coisas boas – disse ele para mim.
Assustei-me com a observação, pois em meus artigos dificilmente cito nomes de pessoas vivas ou mortas e, muito menos, falo inverdades.
É dever do cidadão cumprir com as suas obrigações sem esperar elogios. Com relação às coisas boas, é complicado numerá-las, devido a sua escassez.
O meu ex-aluno me falou que as estradas do Estado e do Brasil estão ótimas. Respondi que a minha televisão só mostrava asfalto esfarelado em recentes estradas inauguradas, reclamação dos caminhoneiros com relação aos buracos e má conservação das mesmas sem o mínimo de conservação e segurança para o seu uso.
A situação da malha viária está tão precária, que o governo que combate privatizações, está privatizando-as, como única alternativa para evitar o colapso total no escoamento das nossas riquezas.
Brincando, quis saber a marca da sua televisão, que deveria ser diferente da minha.
Falar que eu fui operado com sucesso em Cuiabá, é dever do Estado, porém, a equipe que me operou não existe no serviço público. Por outro lado, se um paciente do SUS se submetesse a mesma cirurgia, demoraria, no mínimo, o tempo de gestação de humanos – 9 meses. Conclusão: não dá para se calar.
Saber que em Cuiabá centenas de crianças são abandonadas pelas mães, já que pais não existem; que para pagar funcionários públicos, e não deixar parar as obras de construção do campo de futebol para a Copa do Mundo, arranjos contábeis e financeiros são feitos - e o silêncio nesses casos é criminoso.
O terço é muito longo. Fiz uma pergunta ao meu querido aluno e leitor:
      - Por acaso, neste artigo que tanto lhe incomodou, eu citei o nome de alguém?
      - Não - ele respondeu. Mas a gente sabe quem é.
      - Se você sabe, é porque concorda com o texto, onde relato verdades que todos devem saber.
Assim entendo o exercício da cidadania: o chamamento à reflexão para as atitudes daqueles que nos ofendem com seus comportamentos anti-republicanos.
      - Você sabe que tem razão, professor?
A conversa estava encerrada. Missão cumprida. Volto para casa para o meu café da manhã.


Gabriel Novis Neves
29-12-2011

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