Após
a inauguração do Verdão o futebol cuiabano experimentou a sua fase áurea.
Qualquer clássico entre - Mixto, Dom Bosco e Operário de Várzea Grande - o
número de torcedores quase fechava o anel do demolido estádio.
A
auto-estima dos jogadores, dirigentes e torcedores andava nas alturas. Dava
gosto assistir ao bom futebol praticado pelos atletas no Verdão e o entusiasmo
e presença do torcedor.
Cabines
de rádio para a transmissão dos jogos davam uma aparência de cidade grande à
nossa querida Cuiabá.
Nessa
ocasião, o Campeonato Brasileiro era disputado em todas as capitais
brasileiras, e o número de times era enorme.
O
Mixto era o nosso representante no mais difícil campeonato do mundo de clubes.
Contratou um técnico de São Paulo chamado Milton Buzzeto, e montou um time
competitivo para disputar o campeonato que muito divulgou Cuiabá.
Jogo
do Mixto, casa lotada e, o melhor, um jogão de bola. A glória veio em um jogo
noturno do Mixto contra o Clube de Regatas Vasco da Gama do Rio de Janeiro.
Jogo equilibradíssimo, com mais entusiasmo do time da casa. Final do 2º tempo e
o Mixto parte com tudo para cima do Vasco, que demonstrava cansaço.
Escanteio.
Pelézinho, o principal jogador do Mixto, se prepara para bater o escanteio e faz
um dos mais belos gols olímpico que assisti. Final do jogo: o Mixto bateu o
famoso Vascão do Rio por 1X0.
No
ano seguinte o nosso representante no Brasileirão foi o Dom Bosco. O clube
contratou um ex-goleiro do Santos como técnico, cujo nome era uma homenagem ao
grande goleiro Manga do Botafogo, Internacional e Seleção Brasileira.
Paulo
Borges, que era da diretoria do Dom Bosco, trabalhava comigo na universidade.
Inicia-se o campeonato e o nosso Dom Bosco começou a colheita de derrotas.
A
derrota é incompatível com o trabalho de um técnico de futebol, seja Maradona,
Parreira ou Manga genérico.
Perguntei
ao Paulinho Borges: por que o Manga foi demitido? E ele me falou: “Pô! O cara
ganhava uma nota preta. Nos treinamentos apenas distribuía as camisas. Antes
dos jogos reunia o time no vestiário e fazia a preleção técnica. Chamava o
goleiro e dizia: atenção máxima com as bolas rasteiras e altas. Cuidado com os
cruzamentos, escanteios e chutes de fora da área, tá?”
A
seguir explicou-me suas táticas: para os zagueiros - rebater com força as bolas
na área de preferência para as laterais. Evitar faltas e dribles. Ok? Meio
campo - criação das jogadas. Não errar passe e ajudar a marcar o adversário.
Sempre o passe de primeira. Entendido? Atacantes - evitar a marcação e chutar
colocado no gol. Goleiro não pega essas bolas. Vamos rezar e entrar em campo -
e seja o que Deus quiser.
Resultado
do Manga treinador: cinco jogos, cinco derrotas. “Deus não quis seo
Paulinho”, disse Manga ao tomar conhecimento da sua demissão.
Contei
essa historinha verdadeira do nosso futebol, que é muito parecida com a
política, onde o feio é perder uma eleição.
Leio
nos jornais: “O contingenciamento do orçamento para este ano, será de R$ 500
milhões.”
Traduzindo:
já no 1º dia do ano a tesoura cortou meio bilhão de reais do orçamento.
Justificativa: a crise da Europa, que não pegou o Brasil segundo o pessoal de
Brasília, acertou em cheio o nosso Estado.
Lembra
o governo Estadual, que esse percentual do corte poderá aumentar caso persista
a crise na Europa e o BNDES não aprove o empréstimo de Mato Grosso de mais de
R$ 12 bilhões.
A
orientação técnica passada aos funcionários da Fazenda: “Arrecadar mais
impostos; evitar a sonegação fiscal; e evitar a evasão de receitas.”
O
Estado, segundo notícias publicadas, perdeu cerca de R$ 2 bilhões com as
exportações, e assumiu despesas de mais de R$ 2 bilhões com empréstimos para a
Copa do Mundo.
Tenho
receio que essa crise financeira, que não é nossa, acabe estragando os jogos da
Copa.
Manga
foi demitido, e aqui?
Gabriel
Novis Neves
03-01-2012
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