quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

TÉCNICO DO DOM BOSCO


Após a inauguração do Verdão o futebol cuiabano experimentou a sua fase áurea. Qualquer clássico entre - Mixto, Dom Bosco e Operário de Várzea Grande - o número de torcedores quase fechava o anel do demolido estádio.
A auto-estima dos jogadores, dirigentes e torcedores andava nas alturas. Dava gosto assistir ao bom futebol praticado pelos atletas no Verdão e o entusiasmo e presença do torcedor.
Cabines de rádio para a transmissão dos jogos davam uma aparência de cidade grande à nossa querida Cuiabá.
Nessa ocasião, o Campeonato Brasileiro era disputado em todas as capitais brasileiras, e o número de times era enorme.
O Mixto era o nosso representante no mais difícil campeonato do mundo de clubes. Contratou um técnico de São Paulo chamado Milton Buzzeto, e montou um time competitivo para disputar o campeonato que muito divulgou Cuiabá.
Jogo do Mixto, casa lotada e, o melhor, um jogão de bola. A glória veio em um jogo noturno do Mixto contra o Clube de Regatas Vasco da Gama do Rio de Janeiro. Jogo equilibradíssimo, com mais entusiasmo do time da casa. Final do 2º tempo e o Mixto parte com tudo para cima do Vasco, que demonstrava cansaço.
Escanteio. Pelézinho, o principal jogador do Mixto, se prepara para bater o escanteio e faz um dos mais belos gols olímpico que assisti. Final do jogo: o Mixto bateu o famoso Vascão do Rio por 1X0.
No ano seguinte o nosso representante no Brasileirão foi o Dom Bosco. O clube contratou um ex-goleiro do Santos como técnico, cujo nome era uma homenagem ao grande goleiro Manga do Botafogo, Internacional e Seleção Brasileira.
Paulo Borges, que era da diretoria do Dom Bosco, trabalhava comigo na universidade. Inicia-se o campeonato e o nosso Dom Bosco começou a colheita de derrotas.
A derrota é incompatível com o trabalho de um técnico de futebol, seja Maradona, Parreira ou Manga genérico.
Perguntei ao Paulinho Borges: por que o Manga foi demitido? E ele me falou: “Pô! O cara ganhava uma nota preta. Nos treinamentos apenas distribuía as camisas. Antes dos jogos reunia o time no vestiário e fazia a preleção técnica. Chamava o goleiro e dizia: atenção máxima com as bolas rasteiras e altas. Cuidado com os cruzamentos, escanteios e chutes de fora da área, tá?”
A seguir explicou-me suas táticas: para os zagueiros - rebater com força as bolas na área de preferência para as laterais. Evitar faltas e dribles. Ok? Meio campo - criação das jogadas. Não errar passe e ajudar a marcar o adversário. Sempre o passe de primeira. Entendido? Atacantes - evitar a marcação e chutar colocado no gol. Goleiro não pega essas bolas. Vamos rezar e entrar em campo - e seja o que Deus quiser.
Resultado do Manga treinador:  cinco jogos, cinco derrotas. “Deus não quis seo Paulinho”, disse Manga ao tomar conhecimento da sua demissão.
Contei essa historinha verdadeira do nosso futebol, que é muito parecida com a política, onde o feio é perder uma eleição.
Leio nos jornais: “O contingenciamento do orçamento para este ano, será de R$ 500 milhões.”
Traduzindo: já no 1º dia do ano a tesoura cortou meio bilhão de reais do orçamento. Justificativa: a crise da Europa, que não pegou o Brasil segundo o pessoal de Brasília, acertou em cheio o nosso Estado.
Lembra o governo Estadual, que esse percentual do corte poderá aumentar caso persista a crise na Europa e o BNDES não aprove o empréstimo de Mato Grosso de mais de R$ 12 bilhões.
A orientação técnica passada aos funcionários da Fazenda: “Arrecadar mais impostos; evitar a sonegação fiscal; e evitar a evasão de receitas.”
O Estado, segundo notícias publicadas, perdeu cerca de R$ 2 bilhões com as exportações, e assumiu despesas de mais de R$ 2 bilhões com empréstimos para a Copa do Mundo.
Tenho receio que essa crise financeira, que não é nossa, acabe estragando os jogos da Copa.
Manga foi demitido, e aqui?

Gabriel Novis Neves
03-01-2012

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